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E não é que a tese de fintech no agro continua atraindo os investidores? Três semanas depois que a Traive anunciou um cheque de US$ 10 milhões numa rodada pré-Série B, a Agrolend está divulgando uma captação de R$ 145 milhões (equivalente a US$ 27 milhões) em um round liderado pela Lightrock, gestora global de private equity com foco em impacto — que já investiu em fintechs como Creditas e Dock.
Neste novo investimento, que chega cerca de 11 meses depois do último cheque, a agfintech trouxe também novos investidores de peso, como Yara Growth Ventures (o VC da Yara, empresa de nutrição vegetal), Mago Capital (que tem os fundadores da Locaweb como sócios), entre outros nomes.
Os investidores institucionais, como Valor Capital, Continental Grain Company, SP Ventures, Provence Capital e Barn Invest, fizeram follow-on. O valuation da nova captação — a terceira desde a fundação — não foi divulgado.
“A Agrolend compôs a rodada com investidores de características distintas, reunindo capital de crescimento com foco em impacto, conhecimento profundo do agro, knowhow em tecnologia, presença global, dentre outras. Além disso, temos investidores comprometidos com o Brasil no longo prazo e dispostos a seguir investindo muito mais na empresa nos próximos anos”, afirmou Andre Glezer, cofundador da Agrolend, em comunicado.
Criada em dezembro de 2020 por ele, seu irmão Alan e seus sócios Valéria Bonadio, Leopoldo Vettor e Carlos Fagundes, a Agrolend atua com crédito para pequenos e médios produtores rurais, em mais de 10 Estados brasileiros. Para chegar até eles, a fintech tem acordos com agroindústrias e revendas de insumos, equipamentos e implementos agrícolas. Ao todo, são mais de 100 parceiros.
Com a nova injeção de recursos, a Agrolend diz aumentar sua base de capital para R$ 220 milhões. O objetivo é chegar uma carteira de crédito de R$ 2 bilhões na safra 2023/2024, atendendo 10 mil produtores rurais de pequeno e médio porte em todo o Brasil. Segundo projeção da empresa, o portfólio deve fechar o ano em aproximadamente R$ 250 milhões, alta de 10x comparado ao final de 2021.
Como funding, recentemente a fintech concluiu a emissão de seu primeiro Fiagro, captando cerca de R$ 150 milhões com investidores institucionais como Itaú Asset Management e JGP.
Atualmente, a empresa opera como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), mas já deu entrada no Banco Central (BC) para se tornar financeira, o que basicamente permitirá à empresa levantar recursos via LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), a custo de capital mais baixo.
Assim que começar a operar como financeira, a Agrolend espera atingir um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) acima de 25% ao ano, na safra 2023/24, mantendo-se num nível de Basileia próximo a 18% — o mínimo exigido pelo BC é 11%.
A transformação de SCD em financeira faz parte da visão de longo prazo da Agrolend, que pretende ser o primeiro banco digital do agro, com foco em pequenos e médios produtores.
“Nossa cabeça é em cinco anos chegar a 100 mil clientes e cerca de R$ 10 bilhões em carteira, e se transformar numa instituição financeira multiprodutos, com crédito de longo prazo, seguros, conta corrente, cartão de crédito”, afirmou Andre, em entrevista ao Finsiders no início do ano.
Concorrência
Não faltam fintechs de olho no potencial dos serviços financeiros, especialmente crédito, no agronegócio. Estão na lista players como a já citada Traive, a TerraMagna (que recebeu um aporte liderado pelo SoftBank, no começo do ano), a A de Agro, Bart Digital e outras.
Potencial não falta: a necessidade de financiamento agrícola no Brasil é de R$ 800 bilhões, conforme estimativa do Ministério da Agricultura. O governo vai disponibilizar, contudo, um total de R$ 340,88 bilhões no Plano Safra 2022/23, o que significa uma oportunidade de fontes alternativas de financiamento para além dos grandes bancos públicos e privados.
Tanto é que as LCAs são a principal fonte de recursos não controlados, respondendo por 25% do crédito rural, segundo dados recentes divulgados pela pasta. Esse tipo de funding mais do que dobrou na safra 2022/23, até outubro, chegando a R$ 36,62 bilhões, de um total de R$ 148,25 bilhões em desembolsos do crédito rural.
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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.
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