Tendências de inovação na indústria financeira para 2023

Para o mercado financeiro e, especificamente o setor de câmbio, o Pix trouxe disrupção e agilidade, escreve Caio Pilato, fundador da WeCambio

Por Carlos Augusto de Oliveira*
Quando falamos de tendências mais relevantes para 2023, o primeiro aspecto relevante que merece destaque é a própria jornada de evolução da agenda do Pix. Apesar de já ter abraçado toda a sociedade com mais de 150 milhões usuários ativos – que corresponde a toda população economicamente ativa do Brasil – ele tende ainda a continuar crescendo consistentemente, ampliando a sua utilização dos atuais usuários e ganhando novas adesões, especialmente no B2B.

O roadmap e previsão de funcionalidades novas que tendem a ser incorporadas no Pix ao longo do ano vem gerando ainda mais conveniência e ampliando as possibilidades de uso. O destaque fica com o iniciador de pagamentos que se encontra nas fases iniciais de homologação e que trará uma experiência interessante de conveniência de utilização, sem falar que deve ainda evoluir para jornadas cada vez mais simples com um potencial de conseguir gerar bastante valor na medida em que ele se conecta a todas as plataformas.

Tem também o Pix Garantido, o esperado Pix Automático que é a possibilidade de fazer pagamentos recorrentes e ainda com valores variáveis e substituir com muitos benefícios e interoperabilidade serviços hoje restritos de débito automático de pagamento de utilities e tributos, além de várias outras modalidades de boletos programados.

Câmbio e remessas internacionais

A disrupção do mercado de câmbio e remessas internacionais deve também ter um foco importante, por meio do estímulo de uma grande desburocratização e enorme simplificação da regulamentação de câmbio, já em andamento. Isto significa uma oportunidade de ganho de eficiência dado o negócio de FX deve ser completamente redesenhado ao longo de 23.

Seguindo nesta toada de forma sincronizada com o redesenho operacional, devemos ter na esteira de melhorias a aguardada conveniência do Pix Internacional. Sem dúvida, temos uma perspectiva de termos uma revolução neste segmento e alavancar fortemente a integração e inovação da indústria no mercado internacional.

Open Finance

Enquanto existe uma unanimidade no crescimento e sucesso do Pix, o Open Finance remete para percepções difusas em função da sua complexidade e grandes requisitos técnicos que têm gerado atrasos nos cronogramas de implementação.

O ano de 2022 foi muito focado no aspecto regulatório e na complexa construção da fundação da infraestrutura, gerando impactos nos participantes do ecossistema para conseguir avançar até estas fases bem iniciais. Ainda assim, ficou claro no debate que ele já tem atraído uma adesão bastante interessante e crescente com mais de 10 milhões de consentimentos registrados e 200 milhões de chamadas de APIs por mês. Isto no mínimo significa que já atrai muitos acessos e experimentação para entendimento e materialização de benefícios por meio do compartilhamento de dados.

Carlos A. de Oliveira, CEO da Certdox. Foto: Divulgação
Carlos A. de Oliveira, CEO da Certdox. Foto: Divulgação

Então fica evidente que o Open Finance vale uma aposta para 2023, pois deve começar a alavancar fortemente, sendo incorporado na vida das pessoas, com adesão cada vez maior das instituições na geração de novos serviços inovadores com o uso dos dados compartilhado seguindo por meio das fases 2 e 3. Além disso, devemos também mais concretamente conferir o potencial da integração com os mercados de seguros e investimentos que começam a andar de forma consistente.

Como o Open Finance é uma jornada, e não um projeto ou produto pronto, demandando por isso fortemente as estruturas de tecnologias, algumas instituições financeiras — por serem menores e não terem participação obrigatória — muitas vezes ficam aguardando para se inserirem quando o ecossistema tiver mais robustez, o que pode ser uma estratégia equivocada na medida que requer tempo e aprendizado para de fato poder explorar o potencial desta nova plataforma.

Podemos comentar, ainda, sobre a gradativa tendência de monetização dos dados por meio de uma maior consciência do próprio cliente do valor de seus dados, exigindo em troca do consentimento, ou soluções convenientes que lhe tragam algum benefício tangível, ou uma compensação financeira pelo acesso as suas informações.

Blockchain

Em relação ao tema blockchain, claramente há uma tendência crescente da tecnologia em 2023, e existem várias óticas promissoras que foram também abordadas durante o webinar.

Um ângulo relevante se refere à criptoeconomia, mercado das moedas digitais, que possuem um crescimento acelerado e uma adesão realmente muito grande, com um consenso que deve acelerar ainda mais agora com a aprovação recente da regulação e com adesão de vários setores, na medida em que vai oferecer mais segurança ao mercado com a sua entrada e as obrigatoriedades a serem cumpridas pelos players participantes. Tudo indica ser um mundo novo e irreversível que se consolidará em 2023.

Outro tema é o real digital, a iniciativa do Banco Central de utilizar os benefícios da aplicação da tecnologia blockchain para ampliar os escopo de funcionalidades e conveniências dentro da indústria financeira. O desafio é buscar extrair os recursos que o blockchain pode gerar de novos modelos de liquidação e de interoperabilidade para ampliar conveniência por meio da disrupção de novos casos de uso para o cliente usuário da própria plataforma da instituição financeira.

Desta forma, a iniciativa objetiva extrair o melhor dos dois lados, ou seja, a segurança e a capacidade de integrar a plataforma transacional dos recursos e carteiras do cliente que a indústria financeira oferece, com a flexibilidade e poder de implementação possibilitada pela tecnologia DLT.

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É um mundo novo que está em modo exploratório, mas em plena evolução dentro das iniciativas do sandbox, além do Lift Challenge, justamente para atrair esses casos de uso propostos pelo mercado, e permitir que sejam experimentados e entendidos os seus efeitos e benefícios, para, a partir disso, serem regulamentados e disponibilizados para a sociedade.

Outra vertente importante na exploração de soluções DeFi que deve ser aprofundada em 2023 corresponde à tokenização. A possibilidade de fragmentar os ativos financeiros digitais já começou a ser realizada intensamente em 2022.

Existe uma tendência agora de evoluir os processos para aplicação estruturada e massiva de tokenização também de ativos reais, que deve impulsionar, desburocratizar o processo e aumentar globalmente a liquidez destes ativos.

Isto se torna viável com segurança na medida em que os todos os ativos, seja um imóvel, um automóvel, uma instalação industrial ou maquinário, podem ter uma representação digital e desde que seja possível construir uma conexão também digital junto ao órgão regulador correspondente para que gere um lastro adequado para permitir o vínculo com cada token. Neste sentido acreditamos que isto deve ganhar a forma e impulso em 2023, pelos benefícios, eficiência e flexibilidade que proporcionam estas estruturas.

A expectativa dos melhores casos de uso oriundos do real digital e modelos eficientes de tokenização devem ser evidenciados em 2023 para ser tornarem realidade em 2024, ganhando escalabilidade e apresentando um mar de oportunidades e iniciativas que nem podemos supor agora.

Concluindo, temos enorme potencial de inovações que devem se exponenciar com uso da plataforma blockchain ao longo de 2023, pela possibilidade de eliminar várias barreiras de acesso, provocando uma desintermediação de forma fluida e contribuindo com aumento de eficiência da indústria financeira tradicional.

Metaverso

Prosseguindo nessa esteira da renovação disruptiva, outro tema surgido foi a capacidade de inovação real do metaverso. Ou seja, o que por trás do hype tem de potencial que pode surgir em 2023 para a indústria financeira.

Temos constatado, que por trás do marketing e muita exposição sobre o assunto, poucas iniciativas reais têm surgido na indústria financeira, ao contrário do que pode ser verificado nos setores de entretenimento, games e artes, por exemplo.

A única exceção verificada corresponde à iniciativa do Banco do Brasil, mas também aparentemente sem uma aplicação relevante até então. Fica um pouco a conclusão de que ainda é algo que não está maduro o suficiente para ser absorvido e gerar valor com clareza na indústria financeira, ao menos em 2023. Não esperamos, portanto, encontrar alguma contribuição mais ampla desta nova tecnologia na indústria financeira neste horizonte de curto prazo.

Estas devem ser as principais tendências de inovação da própria indústria financeira. No entanto, existem evidentemente outros temas super relevantes de tecnologia que poderiam ser discutidos tais como o potencial que a expansão do 5G irá propiciar conexão com sensores e dispositivos inteligentes para monitoramento e entrega de serviços conectados com o fluxo financeiro, colaborando para a própria transformação digital completa da jornada de serviço.

Já a inteligência artificial (IA) e sua capacidade de transformação dos dados compartilhados com os clientes que podem gerar oportunidades e decisões de negócios de forma personalizada, além das novas técnicas de biometria e autenticação conferindo patamares mais elevados de segurança sem gerar fricção etc.

Temos, então, muitas outras iniciativas que devem aflorar e crescer ainda mais em 2023, e que tanto irão contribuir para a evolução da indústria financeira. Temos certeza que o ano novo será tão prodigo de novidades quanto foi 2022.

Existe um consenso dos especialistas do quanto tem sido um privilégio ter conseguido participar desse processo de transformação da indústria financeira, e que em 2023 ele deve acelerar ainda mais, trazendo muito mais novidade para o benefício do mercado, dos clientes e da sociedade… Quem viver verá!

*Carlos Augusto de Oliveira é CEO da Certdox, membro do pool de fintechs da Bossanova e colunista do Finsiders.
>> Este texto foi adaptado de post publicado originalmente no blog da Kadmotek Ventures. 

As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo autor do texto.

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