Quando anunciou sua rodada Série B de US$ 45 milhões, a Stark Bank destacou que os planos incluíam a ampliação do portfólio de produtos. Agora, os projetos começam a sair do papel, com a disponibilização de uma linha de crédito no cartão corporativo para uma base selecionada de clientes. O banco digital também vai passar a oferecer um investimento de renda fixa que servirá de colateral para a contratação de crédito.
“Devemos distribuir R$ 300 milhões em linha de crédito no cartão no primeiro semestre”, revela Rafael Stark, fundador e CEO da fintech, em conversa com o Finsiders. “Estamos escolhendo a dedo para quais clientes damos linha de crédito”, complementa o empreendedor.
De início, o recurso para conceder crédito vem das últimas captações realizadas pela empresa — US$ 13 milhões em dezembro de 2021 e mais US$ 45 milhões em abril do ano passado —, mas Rafael não descarta novos movimentos para ampliar a capacidade de funding, como levantar capital via FIDC ou evoluir sua licença de instituição financeira. Hoje, a Stark Bank opera como Sociedade de Crédito Direto (SCD), o que lhe permite emprestar apenas com recursos próprios.
Crédito lastreado em token de renda fixa
Enquanto não avança em um desses caminhos possíveis, a empresa vai lançar em março um produto de renda fixa digital, chamado por Rafael de “token de renda fixa”, baseado em tecnologia blockchain, que poderá ser usado como garantia da linha de crédito. “Temos muito pedido para ter rendimento em conta, mas não podemos oferecer isso porque, como IP e SCD, precisamos fazer zeragem de caixa”, explica o fundador.
Com a estratégia, a Stark Bank espera acelerar a oferta de crédito, inclusive aumentando os limites, algo que hoje não é possível sem ter uma garantia. “Com o investimento, vamos ter colateral. Caso a empresa não pague a fatura, liquidamos a posição”, diz Rafael. “Queremos potencializar isso para poder dar limites maiores, para mais empresas, do que precisar analisar a fundo cada uma, avaliar o risco e oferecer menos do que gostaríamos.”
Banking + software
Para se diferenciar de grandes bancos e até mesmo de outras fintechs, a Stark Bank também aposta em uma combinação de banking com software, e mira médias e grandes empresas. “Estamos criando o banco do futuro, moderno, escalável, data-driven, que permite às empresas tomarem melhores decisões”, define Rafael. “Estamos discutindo modelos de inteligência artificial (IA) e machine learning para dar insights aos clientes.”
No caso do cartão, a oferta evoluiu de uma modalidade pré-paga para pós-paga no fim do ano passado, e agora está agregando funcionalidades “inteligentes”. Por exemplo, é possível definir diversas regras de aprovação, como a quantia a ser utilizada por dia ou mês, a delimitação da moeda, país a ser utilizado, tipo de estabelecimento, entre outras. Também dá para atrelar os gastos aos centros de custo criados na plataforma da fintech.
“Quanto maior é a empresa, menor é a visibilidade dos gastos. Queremos dar ferramentas para ajudar a gerar eficiência operacional”, destaca Rafael. “Pelos dashboards, os times financeiros podem acompanhar os gastos mensais, o histórico, os ‘card holders’ que estão gastando mais e em quais categorias”, diz o empreendedor. Já os cartões virtuais são tokenizados e, assim, atrelados aos estabelecimentos desde a primeira compra. A bandeira é Mastercard Black.
Números
Atualmente, a Stark Bank tem uma base com 500 clientes ativos. Na lista, estão nomes como Colgate, Grupo Ultra, Localiza, Natura, além de startups, scale-ups e empresas de tecnologia do porte de QuintoAndar, Loft, Cora, Kovi, Buser, Daki, entre outros. Questionado sobre o número e o crescimento da base, Rafael diz que não está focado em quantidade. “Somos bem seletivos com as empresas”, afirma ele. Para se ter uma ideia, em abril de 2022, a fintech atendia 300 clientes.
No terceiro trimestre de 2022, o volume de pagamentos processados (TPV), na sigla em inglês) pela Stark Bank atingiu US$ 3,3 bilhões, montante 8 vezes maior em relação a igual período de 2021 – os dados do último trimestre e o consolidado do ano passado serão divulgados nas próximas semanas.
A Stark Bank dá lucro desde julho de 2021 e teve resultado líquido positivo de US$ 2,1 milhões (sem ajustes) no terceiro trimestre de 2022. “Somos uma instituição financeira sólida, não temos ‘cash-burn’, nem chance de quebrar daqui a 18 ou 24 meses”, diz Rafael. “Nossos padrões são altos, temos os números auditados por PwC e EY e vamos tirar ratings com agências [de classificação de risco].”
Sobre possíveis aquisições, o empreendedor se mostra aberto a oportunidades, seja para entrar em alguma vertical em que a Stark Bank não atue, seja para trazer alguma empresa que otimize o negócio. “Mas não é algo que estamos olhando ativamente”, ressalta ele.
Mercado
Na oferta de soluções financeiras para empresas, a Stark Bank não está sozinha. Diversos bancos digitais e fintechs, como Cora, Conta Simples e BS2, direcionam sua atuação para esse nicho de mercado. No entanto, o alvo normalmente são as pequenas e médias empresas (PMEs). A empresa fundada por Rafael mira companhias de médio e grande porte, incluindo ‘enterprises’, que são atendidas por grandes bancos ou por instituições como ABC Brasil, Daycoval, Pine e outras.
“Normalmente grandes bancos têm produtos antigos, mas são bons em relacionamento e crédito. A gente não pode se dar ao luxo de criar algo que seja um pouco melhor do que o que eles oferecem, mas sim fazer uma grande experiência, algo que seja 10x melhor, e continuamente melhorando ao longo do tempo”, observa o empreendedor.
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