Com a implementação do Drex (antes Real Digital) e a tokenização da economia, bancos e fintechs têm diversas oportunidades para desenvolver produtos e serviços com o intuito de reduzir custos e explorar novas possibilidades. A avaliação é de especialistas do setor durante o webinar “As criptomoedas chegam aos serviços financeiros”, promovido pelo portal parceiro Blocknews e pelo Cantarino Brasileiro.
De acordo com Sergio Yamani, diretor de inovação e serviços financeiros da 7Comm, empresa de softwares e soluções em TI, o Drex vai possibilitar que os bancos tenham como clientes os investidores institucionais no segmento de ativos digitais. Dessa forma, o passo seguinte é trabalhar na segurança das transações.
“Temos várias soluções para fazer a custódia dos criptoativos, e não só do real digital. Isso envolve várias novas tecnologias para guardar as chaves de forma integrada com os sistemas de tesouraria dos bancos”, afirmou o especialista.
Ainda, o diretor da 7Comm entende que há oportunidades de negócios com o ganho de eficiência. E, que, a partir da iniciativa do Banco Central, a tecnologia blockchain possa ser impulsionada para outros segmentos na indústria financeira. Como exemplo, ele menciona o uso no mercado de crédito.
“Eu posso usar uma cota de consórcio em um empréstimo de garantia que vou fazer. Dependendo do valor, pode ser muito burocrático. Mas, a partir do momento que tenho uma infraestrutura tecnológica, há a garantia de que isso existe”, disse.
Redução de custos
No Inter, o olhar mais próximo para as inovações do BC ocorre desde o lançamento do Lift Lab, o Laboratório de inovações financeiras e Tecnológicas do BC com a Fenasbac, em 2018. A instituição controlada pela família Menin, inclusive, integra o piloto do Real Digital, em um consórcio com a própria 7Comm e a Microsoft.
Segundo Bruno Grossi, tech manager do Inter, o Real Digital trouxe os ‘smart contracts’ para o centro das discussões na criação de soluções financeiras. “O primeiro ponto é reduzir os intermediários, o que vai modernizar o nosso sistema financeiro com custos menores e melhorar a perspectiva para investimentos”, afirmou o especialista.
Ele entende, também, que os bancos poderão explorar as transferências entre clientes, dentro e fora das instituições. Ressalta, ainda, que as possibilidades são infinitas, no universo de DeFi (sigla em inglês para finanças descentralizadas).
Como exemplo, Bruno cita que é possível utilizar os ‘smart contracts’ em operações de crowdfunding. Assim, ao invés de várias pessoas enviando as remessas direto para o beneficiário, ele recebe de uma só vez quando a iniciativa alcançar um determinado valor. A vantagem é ter acesso ao dinheiro em um canal mais seguro e de fácil monitoramento.
‘Tempestade perfeita’
O momento de convergência entre o setor financeiro e o universo cripto vive, nas palavras de João Gianvecchio, gerente de inovação do banco BV, uma ‘tempestade perfeita’. Além do Drex, ele lembra das leis e regulamentações aprovadas recentemente pelos reguladores, como o marco legal das criptomoedas e a definição da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre tokens de recebíveis e de renda fixa como valores mobiliários.
“Com o Drex, acredito que a gente vai viver uma revolução tão grande quanto foi com o SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro) nos anos 90”, disse João. Para ele, os ativos digitais podem ser encarados sob dois aspectos: o da tokenização e o do chamado ‘cripto as a service’ (CaaS), para ofertar produtos e serviços que possam ser escaláveis.
No caso de CaaS, o banco ainda estuda a melhor maneira para entrar nesse mercado. Isso passa pelo enfrentamento de desafios de infraestrutura e custódia dos ativos. Por outro lado, a instituição já vem testando alguns pilotos com modelos de negócios usando blockchain, para mensurar se há, de fato, uma eficiência do ponto de vista de custos.
Para emplacar isso, o gerente de inovação do BV afirma que os ‘squads’ internos precisam estar engajados. “Isso começa com o básico, mostrando em como aplicar a tecnologia no modelo de negócio, e vai mostrando como a tokenização e o Drex vão se juntando. É um assunto complexo, porque não é corriqueiro”, diz.
Devemos tokenizar tudo?
Apesar das evoluções importantes da tokenização, Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e ativos digitais da EY, traz uma reflexão importante. “Do ponto de vista técnico, a gente já pode tokenizar tudo. Mas devemos tokenizar tudo? Não estamos em um momento de ‘hype’, mas de organização. Lá em 2025, quem sabe, a gente vai começar a operar com os depósitos tokenizados nessa plataforma do Drex”, diz.
Thamilla afirma, ainda, que as instituições estão sendo pressionadas pelos ativos tokenizados. “As instituições precisam olhar para as finanças tokenizadas, e não só produtos e serviços mais eficientes e baratos, mas de novos produtos que antes não eram possíveis. Para isso, é necessário todo o desenvolvimento regulatório.”
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