A Warren agora tem um consolidador para chamar de seu. A plataforma de investimentos acaba de anunciar a compra de 100% do MeuPortfolio, plataforma SaaS para gestão de investimentos. O valor da operação não foi revelado.
Com a aquisição, a fintech gaúcha traz uma nova tecnologia para dentro de sua plataforma, que vem sendo incrementada nos últimos anos. De imediato, a ferramenta construída pelo MeuPortfolio será disponibilizada para o segmento de alta renda e, na sequência, para os demais clientes.
A equipe de aproximadamente 20 pessoas do MeuPortfolio, incluindo os fundadores, se juntam ao quadro de colaboradores da Warren.
Fundado em 2019, o MeuPortfolio construiu um consolidador de investimentos com foco no B2B, em sua maioria family offices, seguindo uma direção diferente de outros players no segmento, que começaram atendendo o investidor na ponta e depois avançaram no B2B.
Em dois anos de atuação, a fintech atingiu uma carteira com 16 clientes (principalmente, family offices) que, juntos, gerenciam R$ 16 bilhões em ativos líquidos e ilíquidos, no mercado nacional e internacional.
Até a compra pela Warren, o MeuPortfolio tinha levantado, em janeiro do ano passado, R$ 1 milhão em uma captação na plataforma de equity-crowdfunding EqSeed, atraindo 77 investidores.
“Construímos uma ferramenta boa que atende o universo private, e agora existe a real possibilidade de atingir todos os tíquetes da Warren”, explica Felipe Bossolani, cofundador e CEO do MeuPortfolio, em entrevista ao Finsiders.
A relação entre MeuPortfolio e Warren começou em dezembro de 2020, quando Felipe buscou a gestora e corretora gaúcha para tentar vender o serviço de consolidação de investimentos.
O acordo comercial não evoluiu, mas o relacionamento foi mantido. Quando a Warren comprou o multi-family office Vitra, em outubro do ano passado, as conversas para uma possível parceria foram retomadas e avançaram para um M&A.
“O MeuPortfolio tem features que são únicas no mercado. [A solução] entra inicialmente focada em ‘wealth’ e, com a união de forças, vamos conseguir rapidamente extrapolar inicialmente a ferramenta para os demais clientes”, explica Fabio Safini, CCO (chief commercial officer) da Warren, ao Finsiders.
A solução desenvolvida pelo MeuPortfolio também tem uma conexão muito clara com o negócio B2B da Warren – chamado Warren Pro – voltado para consultores de investimentos, gestores de patrimônio e planejadores financeiros. A vertical cresceu substancialmente nos últimos anos e hoje soma mais de 400 parceiros.
“[O Warren Pro] está crescendo bastante e existe demanda de ter ferramentas de consolidação. Assim como todo o mercado tem essa dor. A ideia é dar uma ferramenta robusta para esses profissionais”, diz Felipe.
Questionado sobre a disponibilização do consolidador para os investidores de varejo da Warren, ele diz que a intenção é colocar a funcionalidade ainda este ano.
Fabio complementa argumentando que não se trata simplesmente de adicionar o recurso ao app, e sim algo que deve ser levado em conta na jornada dos investidores. “Temos uma vertical de design para pensar em como fazer isso. É importante manter a fluidez na experiência do usuário.”
Questionado se os atuais clientes do MeuPortfolio poderiam ser migrados para o B2B da Warren, o executivo diz que essa análise ainda está sendo feita. Por enquanto, os serviços do MeuPortfolio continuam sendo oferecidos normalmente aos seus clientes.
Open Finance
A compra do MeuPortfolio é simbólica em um ano de implementação do Open Finance no país, especialmente sua quarta e última fase, que inclui dados de produtos e serviços de investimentos.
“Primeiro, quisemos montar um time de analytics e agora, com a chegada do MeuPortfolio, nos sentimos bastante prontos para entender o comportamento dos clientes, e mostrar a importância de trazer os ativos para dentro da nossa casa. Mas ainda tem muita areia para ser cavada”, diz Fabio.
Todas as plataformas buscam se fortalecer, inclusive do ponto de vista de tecnologia, para se tornar o principal ponto de contato com os investidores, agregando e consolidando dados de outras instituições — sempre com o consentimento do usuário, claro.
“À medida que as APIs vão saindo, estaremos bem preparados. Em volta disso, para os clientes do varejo, vai ter também uma estratégia de retenção e convencimento de que somos seguros e estamos dentro das regras”, diz Felipe.
Expansão
A aquisição do MeuPortfolio é o quinto deal feito pela Warren desde que levantou sua rodada Série C de R$ 300 milhões, em abril do ano passado. Ainda em 2021, a fintech comprou a Renascença DTVM e fez uma fusão com o multi-family office Vitra – operação que elevou o AuM (ativos sob gestão) para os atuais R$ 20 bilhões.
No começo deste ano, a Warren realizou dois movimentos para reforçar a equipe de tecnologia: primeiro, adquiriu a equipe de projetos da Box TI, adicionando mais 30 desenvolvedores ao seu time; em seguida, fechou outro acordo de ‘acqui-hiring’ com a corretora sim;paul [entenda mais sobre o caso ao final da matéria], levando sua equipe de tech de 40 pessoas.
O plano da instituição fundada por Tito Gusmão é ser a “maior corretora do país no longo prazo”, como o próprio empreendedor disse ao Finsiders, em maio do ano passado, semanas após a divulgação da Série C. E tecnologia, por óbvio, é condição mandatória para o projeto não ficar apenas no papel.
Ao mesmo tempo em que reforça a equipe de tecnologia, a Warren também tem ampliado nos últimos anos a oferta de produtos aos clientes, incluindo câmbio, seguro de vida, educação, planejamento financeiro e off-shore. Com isso, passou a oferecer o que a empresa chama de “um ecossistema completo de wealth management” para os clientes.
Atualmente com R$ 20 bilhões sob gestão, a fintech prevê chegar a R$ 40 bilhões até o fim deste ano. As aquisições – a exemplo da Vitra, que ajudou a acelerar bastante o número – são parte importante da expansão, mas o crescimento orgânico é igualmente fundamental.
“Criamos áreas de growth, solidificamos as estruturas de B2C e B2B. E temos a aceleração de ferramentas que permitem buscar esse AuM”, diz Fábio. “Temos um novo segmento prestes a ser lançado, voltado para startups”, revela, sem abrir maiores detalhes.
Competição
Com o modelo 3.0, pautado no ‘fee based’ — em que se cobra um percentual baseado num percentual do volume investido pelos clientes –, a Warren quer se diferenciar do 1.0 (modelo dos bancos) e 2.0 (supermercados de investimentos).
A tarefa não é trivial, dado o aumento da competição no mercado de investimentos, que tem players fortes e bem-estabelecidos. A XP, por exemplo, terminou o ano passado com R$ 815 bilhões sob custódia e está ‘on fire’ para aquisições – comprou 100% do Banco Modal e uma fatia na Suno, para citar dois exemplos recentes.
Importante lembrar que a instituição fundada por Guilherme Benchimol foi uma das primeiras a se “armar” na disputa pelos consolidadores de investimentos, comprando em junho de 2020 o Fliper que, no ano passado, se uniu ao InfoMoney debaixo do IM+.
Seu principal competidor, o BTG Pactual, também vem se reforçando. Com R$ 1 trilhão sob gestão e administração entre suas operações de asset e wealth management, o banco comprou no ano passado Fator Corretora, Necton e Universa – dona da Empiricus, que tinha adquirido o consolidador Real Valor, em novembro de 2020. Em março de 2021, o BTG também anunciou a compra do também consolidador de investimentos Kinvo, por R$ 73 milhões.
Entre as plataformas de investimentos, a concorrência inclui nomes como Inter Invest (com R$ 56,9 bilhões sob custódia e 2 milhões de investidores) e Genial (mais de R$ 50 bilhões em ativos e mais de 600 mil clientes). A lista tem, ainda, Nu Invest (a corretora do Nubank, antiga Easynvest); Toro (do Santander), Órama, Guide, Magnetis, entre outros players.
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Caso sim;paul
A sim;paul, para quem não sabe, foi lançada em novembro de 2020 por João Silveira, ex-Par Corretora de Seguros e Wiz; e Luis Felipe Amaral, da Equitas. Para operacionalizar o negócio, a sim;paul comprou a corretora Solidus, um ano antes.
Inicialmente, o objetivo era se diferenciar das demais plataformas com um modelo de sociedade para assessores de investimento e também para os clientes. A proposta não vingou, e a estratégia foi começar a servir de “incubadora” para gestoras de patrimônio, oferecendo sua estrutura transacional ou de serviços fiduciários para esses players.
A meta, conforme matéria feita pelo Valor em agosto de 2021, era fechar 50 parcerias com gestoras de patrimônio até o fim de 2022, chegando a um volume de R$ 50 bilhões.
Em meio à acirrada concorrência no mercado de investimentos, com nomes bem estabelecidos como XP e BTG Pactual, a sim;paul sucumbiu e foi se “desfazendo” nos últimos meses. Em janeiro, anunciou a venda da sua carteira de clientes, com R$ 1,2 bilhão sob custódia, para a Guide.
No mês passado, negociou seu time de tecnologia de 40 pessoas com a Warren. E agora em março, a sim;paul assinou um memorando de entendimento para sua aquisição pela Binance, corretora de criptomoedas – a operação depende da aprovação dos reguladores, incluindo o Banco Central (BC).
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