A revolução do crédito digital

Tendência deve continuar, impulsionada por novas tecnologias como IA e pelo amadurecimento do Open Finance, escreve a colunista

A digitalização do sistema financeiro brasileiro tem se intensificado na última década. Hoje em dia, um número crescente de brasileiros prefere realizar suas operações financeiras por meio de aplicativos, sem a necessidade de se deslocar até agências bancárias e enfrentar filas, entre outros contratempos. Esse fenômeno também se aplica ao mercado de crédito, em que a automação e digitalização dos processos se tornaram cruciais.

Esse movimento é extremamente positivo e fundamental. Isso porque, além de proporcionar praticidade aos clientes, o crédito digital também pode impulsionar a concorrência e a inclusão financeira. Isso, por sua vez, pode resultar em taxas de juros mais atrativas e na ampliação da variedade de produtos oferecidos.

O crédito no mundo digital

O crédito digital é uma modalidade de financiamento na qual todas as etapas, desde a solicitação até a liberação dos recursos, passando pela avaliação de risco e a assinatura do contrato, são realizadas de forma totalmente digital. A contratação desse tipo de produto oferece uma série de vantagens, como a conveniência de não precisar se deslocar, a possibilidade de taxas de juros mais atrativas e outros benefícios personalizados, incluindo o acesso a ferramentas de controle de gastos que auxiliam o contratante na gestão financeira após a obtenção do crédito.

O modelo de crédito digital tem sido fortemente associado ao crescimento das fintechs no Brasil. Elas introduzem modelos de negócios altamente baseados na análise de dados, na desburocratização de processos e na atenção especial à experiência do cliente. Ao concentrar-se no processamento tecnológico dos dados, esses players trazem inovação significativa ao sistema financeiro, o que lhes permite oferecer taxas de juros atrativas.

Morgana Tolentino, pesquisadora do Instituto Propague. Foto: Divulgação
Morgana Tolentino, pesquisadora do Instituto Propague. Foto: Divulgação

De acordo com a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), as fintechs de crédito têm como principal foco oferecer agilidade no processo, altas taxas de aprovação de crédito e juros competitivos. A maioria delas afirma concluir a análise e a liberação de crédito em até 24 horas.

Além desses benefícios evidentes, é importante destacar como as fintechs de crédito digital desempenham um papel fundamental na promoção da inclusão financeira. Isso porque buscam atender segmentos historicamente negligenciados pelo mercado de crédito, principalmente no segmento de pessoas jurídicas. Um relatório da PwC de 2022, por exemplo, chegou a mostrar que quase 80% da carteira de crédito para micro e pequenas empresas dessas instituições estava direcionada para esse público.

IA + Open Finance

A proposta parece estar obtendo sucesso, como evidenciado no mesmo relatório da PwC que identificou que as fintechs de crédito digital registraram crescimento mesmo durante a crise da pandemia de covid-19 e destacou a maturidade dessas empresas no mercado. A expectativa, então, é que essa tendência continue, impulsionada pelo desenvolvimento de novas tecnologias. Destaque para a evolução da inteligência artificial (IA), além do amadurecimento do ecossistema de Open Finance.

O Open Finance aprimora o acesso aos dados financeiros, que são essenciais para a análise de crédito digital. Já as novas tecnologias, especialmente IA, otimizam o processamento desses dados, permitindo assim uma redução de riscos e custos no mercado de crédito.

Dessa forma, o crédito digital possui um grande potencial, tornando as operações mais dinâmicas, estimulando a competitividade no setor e aprimorando o atendimento a segmentos que historicamente enfrentam dificuldades no acesso ao crédito.

A consolidação e a expansão desse modelo representam, portanto, não apenas um avanço na digitalização do sistema financeiro, como também a possibilidade de um mercado de crédito mais acessível e econômico no Brasil.

*Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No Finsiders, assina uma coluna bimestral sobre cripto, banking, crédito e Open Finance.


As opiniões neste espaço refletem a visão dos colunistas, e não a do Finsiders. O portal não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.


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