As transformações do sistema financeiro com as CBDCs

Atualmente, 105 países estão explorando CBDCs; juntos, eles representam 95% do PIB global, escreve Tiago Aguiar, da TecBan

Diversos fatores nos últimos anos levaram os bancos centrais de todo o mundo a empreender estudos sobre as moedas digitais de BCs, conhecidas pela sigla CBDCs. O anúncio que o Facebook estaria criando a sua moeda digital, a Libra, agitou o mercado. Soma-se a isso o surgimento e crescimento no volume de transações em criptomoedas, as stablecoins e as plataformas de finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês). Tudo isso junto poderia dar início a uma revolução sem precedentes no sistema financeiro mundial, sem que ninguém soubesse onde poderia parar e como tudo isso poderia atingir a estabilidade econômica das nações.

Diante dessas possibilidades, os bancos centrais decidiram tomar medidas e iniciar pesquisas em relação às suas próprias moedas digitais. Assim, em agosto de 2020, o Banco Central (BC) no Brasil tomou uma iniciativa importante ao estabelecer um grupo de trabalho dedicado ao estudo da emissão de uma moeda digital brasileira. Atualmente, 105 países estão explorando moedas digitais centralizadas. Juntos, eles representam 95% do PIB global, sendo que 60% dos BCs em todo o mundo esperam emitir uma CBDC nos próximos 6 anos.

Vale lembrar que a CBDC é uma representação digital do dinheiro que conhecemos hoje nas versões físicas (cédulas e moedas) e eletrônicas (o real escritural, por exemplo). As CBDCs desempenharão um papel fundamental na inovação dos meios de pagamento, oferecendo benefícios como maior eficiência, segurança e inclusão financeira. Ao eliminar intermediários e permitir transações diretas entre partes, as CBDCs podem agilizar os processos de pagamento, reduzir custos e facilitar transações transfronteiriças.

Além disso, ao serem emitidas por bancos centrais, as CBDCs podem fornecer confiança e estabilidade, incentivando a adoção de tecnologias financeiras avançadas, como tokenização de ativos e contratos inteligentes. Essa inovação impulsionada pelas CBDCs tem o potencial de transformar radicalmente a forma como as pessoas interagem e realizam transações financeiras em um ambiente digital cada vez mais globalizado.

Tokenização e IA

É difícil prever qual será a adoção das CBDCs pelas pessoas em seu dia dia, ou até mesmo pelas instituições financeiras e grandes empresas. Mas na esteira dessa inovação, sem dúvida, a reboque virão duas grandes transformações: a tokenização de ativos físicos e financeiros e o uso da inteligência artificial (IA) associada à programabilidade do dinheiro digital.

A tokenização de ativos é um processo pelo qual ativos como imóveis, ações, títulos de dívida ou até mesmo obras de arte são convertidos em tokens digitais, que podem ser negociados e armazenados em uma blockchain. Esses tokens representam, então, uma fração do valor total do ativo e permitem que investidores comprem e vendam partes desses ativos de forma mais fácil e eficiente.

Tiago Aguiar é superintendente de novas plataformas da TecBan

Anteriormente, investir em certos ativos, como imóveis ou obras de arte, era (e ainda é) complicado e exigia altos montantes de capital. Um dos principais benefícios da tokenização de ativos é a maior acessibilidade e liquidez. Para se ter uma ideia do potencial dessa tecnologia, conforme uma projeção da BinaryX, até 10% do PIB mundial estará tokenizado em 2027.

Quanto à combinação da inteligência artificial com a programabilidade do dinheiro digital (CBDC) e os contratos inteligentes, estes têm o potencial de transformar a forma como as pessoas lidam com suas economias, poupanças e investimentos. A IA pode ser utilizada para analisar dados financeiros e comportamentais, fornecendo, por exemplo, insights personalizados e recomendações precisas para auxiliar as pessoas na tomada de decisões financeiras.

Além disso, por meio dos contratos inteligentes, as transações financeiras podem ser automatizadas e executadas com base em condições pré-programadas. Isso elimina a necessidade de intermediários e aumenta a eficiência dos processos. Permite, ainda, que as pessoas gerenciem seus investimentos de forma mais autônoma, estabelecendo regras e parâmetros que atendam às suas metas e preferências.

Open Banking

Também não podemos esquecer que estamos em meio à implementação do Open Banking. Com o sistema, os usuários têm a possibilidade de compartilhar seus dados financeiros de forma segura e controlada com terceiros, incluindo aplicativos de IA e plataformas de investimento. Isso possibilita que a IA acesse informações detalhadas sobre as finanças pessoais dos usuários, analise padrões de gastos, histórico de investimentos e outros dados relevantes.

Com base nesses insights, os contratos inteligentes podem ser programados para executar ações automatizadas, como investir em determinados ativos ou otimizar uma carteira de investimentos de acordo com metas pré-definidas. Além disso, a combinação do Open Banking com a programabilidade do dinheiro digital permite que os usuários acessem serviços financeiros inovadores, como empréstimos descentralizados (P2P) ou serviços de gestão de ativos baseados em contratos inteligentes.

O sistema financeiro brasileiro já é um dos mais avançados do mundo e nos próximos anos uma série de transformações vão acontecer garantindo a bancarização de milhares de pessoas. Portanto, essa interação sinérgica entre as diversas inovações, combinadas aos meios atuais de acesso ao sistema financeiro, oferecem um cenário promissor para pessoas comuns gerenciarem suas finanças de forma mais eficiente, segura e personalizada, potencializando suas economias.

*Tiago Aguiar é superintendente de novas plataformas da TecBan.

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