Crédito e impacto: como contribuir para a inclusão financeira

Precisamos enxergar além das lentes que há anos ditam o mercado financeiro, escreve Fernando Silva, CEO da fintech de crédito Jeitto

Por Fernando Silva*, exclusivo para o Finsiders
Nos últimos anos, cresceu o número de acesso de brasileiros a bancos. Segundo o Estudo de Inclusão Financeira no Brasil em 2022, realizado pelo Plano CDE, nos últimos quatro anos tivemos uma enorme transformação no cenário de inclusão bancária, principalmente entre classes C,D e E. Hoje, 87% dos brasileiros com renda até R$ 2 mil fazem uso de instrumentos financeiros, inclusive crédito.

Quanto maior a facilidade em abrir a conta e fazer uso, maior a probabilidade de uso. A pesquisa diz que 63% preferem os bancos digitais justamente por um uso mais amigável, além de serem gratuitas. O lançamento do Pix também contribui para a mudança de um cenário: anteriormente, apesar de terem uma conta, grande parte da população tirava o seu rendimento mensal do banco e fazia suas transações e pagamentos sempre com a moeda de papel.

Trabalhar com esse público, mais do que uma enorme gama de possibilidades de negócios, é a chance de vivenciar o impacto de maneira muito clara. Existe um campo muito grande para criação de negócios financeiros com classes C, D e E. Porém, se empreender nessa área é um objetivo, é preciso conhecer esse público, ir além do que os números de pesquisa nos mostram. Conversar, ouvir, visitar… o contato e a escuta ativa fazem uma enorme diferença quando trabalhamos com esse perfil.

Não adianta repetir clichês de que é preciso oferecer educação financeira porque os brasileiros, principalmente os de classes mais vulneráveis, não entendem nada sobre finanças pessoais. Uma grande inverdade. Muitas das mulheres que chefiam famílias inteiras e os seus famosos caderninhos podem dar aula de educação financeira e como fazer seu dinheiro render, ou ainda, melhores escolhas.

O endividamento dessas pessoas não é fruto de uma ignorância sobre as finanças. Ele vem de um enorme abismo social que existe em nosso país. Quando olhamos para os motivos na hora de buscar o crédito, contas básicas como luz e água (14%) e alimentação (12,8%) são os dois motivos principais apontados em pesquisa feita pelo Jeitto com a sua base de clientes.

Fernando Silva, CEO e cofundador do Jeitto. Foto: Divulgação/Jeitto
Fernando Silva, CEO e cofundador do Jeitto. Foto: Divulgação/Jeitto

Segundo levantamento mensal da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de novembro de 2022, 79,2% das famílias pesquisadas relataram ter dívidas a vencer e o percentual de famílias inadimplentes chegou a 30% em setembro, sendo o maior da história desse levantamento que existe desde 2012. Além disso, o indicador de inadimplência do Serasa de setembro apontou 68,39 milhões de brasileiros com o nome restrito.

Não é qualquer crédito e nem o acesso bancário que irá resolver esse problema no Brasil. Mais do que buscar incansavelmente a redução de desigualdade social, precisamos enxergar além das lentes que há anos ditam o mercado financeiro e colocar em xeque práticas tradicionalmente excludentes através do uso de um sistema de inteligência artificial que permite uma análise rápida e acertada para esse perfil de consumidor.

Observando o cenário econômico brasileiro, tendo em mãos dados relevantes sobre como as classes C, D e E utilizam o crédito, temos evidências que ampliar o acesso ao crédito saudável é uma resposta para aumentar o fôlego financeiro das famílias, fomentar o comércio, empoderar a população e promover mais oportunidades mesmo em tempos de instabilidade e incerteza. É preciso levar essa população para o sistema bancário para que eles possuam um histórico de créditos que os permita, num futuro, sonhar com financiamentos maiores para compra de imóvel ou outros sonhos.

Crédito facilitado, com regras claras e juros possíveis também permitem que pessoas fujam de empréstimos de agiotas, que ainda ocupam 3° lugar na lista como opção na hora de se endividar, mesmo com juros abusivos e métodos de cobrança que beiram a violência.

Além de conhecer o seu público, se criar um negócio para as classes C, D e E é um dos seus objetivos, um último conselho é buscar exemplos alinhados com os desafios da realidade econômica brasileira.

Não busque encaixar ninguém em modelos existentes. Entenda essas classes como uma grande massa heterogênea e complexa. Por aqui, escolhemos um caminho que molda uma solução inovadora inclusiva desde a essência: criamos um produto que é próximo das pessoas, que conhece suas necessidades e fala de finanças com foco em autonomia.

*Fernando Silva é CEO e cofundador do Jeitto, aplicativo de crédito digital.

As opiniões neste espaço refletem a visão de founders, especialistas e executivo(a)s de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.

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