ANÁLISE

"Esqueceram de Mim" e o crédito no Open Finance

Parece que deixamos para trás não um garoto astuto, mas um componente vital prometido para revolucionar o acesso ao crédito: o EPOC

Imagem: Dall-E
Imagem: Dall-E

Quando pensamos no clássico filme “Esqueceram de Mim”, imaginamos o pequeno Kevin McCallister enfrentando aventuras e desafios sozinho, enquanto sua família, em meio à correria das férias, o deixa acidentalmente para trás. De forma análoga, no universo do Open Finance no Brasil, parece que deixamos para trás não um garoto astuto, mas um componente vital prometido para revolucionar o acesso ao crédito: o EPOC, também conhecida por Encaminhamento de Proposta de Crédito.

Assim como a família McCallister planejou meticulosamente suas férias, o Open Finance foi planejado para incluir funcionalidades, como o compartilhamento de dados, iniciação de pagamentos e o encaminhamento de proposta de crédito. Previsto para ser um marco no Open Banking em 2021, o EPOC tem o objetivo de ser o método rápido e eficiente para consumidores enviarem propostas de crédito a diversas instituições financeiras. Assim, deve promover uma competição saudável com melhores condições de crédito para os usuários.

No entanto, assim como Kevin foi esquecido na pressa da partida, o EPOC foi deixado para trás no avanço do Open Finance. Enquanto outras funcionalidades, como o compartilhamento de dados e o Pix avançaram, o EPOC permanece em uma espécie de limbo, aguardando sua vez de brilhar.

Oportunidade perdida

Sua ausência no cenário atual do ecossistema não é apenas um detalhe esquecido. Representa, então, uma oportunidade perdida de democratizar ainda mais o acesso ao crédito e aumentar a eficiência e transparência do sistema financeiro. Sem o EPOC, consumidores e instituições continuam presos a processos burocráticos e menos eficientes, reminiscentes das confusões enfrentadas pela família McCallister.

Assim como Kevin, que encontrou maneiras criativas de se virar sozinho, há esperança para o EPOC no Open Finance. É essencial que reguladores, instituições financeiras e demais envolvidos se unam para superar os desafios técnicos e regulatórios, garantindo que ele finalmente se torne uma realidade, melhorando significativamente o acesso e a oferta de crédito no Brasil.

Além de ser uma peça fundamental que falta, a implementação do EPOC no Open Finance representa um avanço crucial no conceito de uma operação transacional abrangente. Ela se estende além dos pagamentos e crédito para, futuramente, abertura de contas, operação de investimentos e outras funcionalidades transacionais. 

Tal qual Kevin McCallister eventualmente se reúne com sua família, trazendo um final feliz para “Esqueceram de Mim”, a inclusão efetiva do EPOC no Open Finance pode garantir um futuro onde os serviços financeiros sejam mais acessíveis, inclusivos e integrados para todos no Brasil. É um convite para lembrarmos do EPOC e garantir que ele assuma seu lugar de direito no Open Finance, evitando que fique perdido no esquecimento.

*Rogerio Melfi é membro da curadoria da ABFintechs.

Este espaço é dos líderes da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). As opiniões aqui representam a visão da entidade, e não a do Finsiders Brasil.