O Open Finance, sistema de compartilhamento de dados bancários pessoais, está se desenvolvendo cada vez mais no Brasil. Ele expande o modelo de compartilhamento de dados para além do sistema bancário, alcançando também o mundo dos investimentos e dos seguros. Dessa forma, o ecossistema fomenta o compartilhamento de informações, com a devida análise e processamento. Assim, promete impulsionar a inovação no mercado, proporcionando soluções cada vez mais personalizadas para os clientes.
Para lidar com grandes volumes de dados, destaca-se o potencial da inteligência artificial (IA). A tecnologia é capaz de otimizar o processamento e aprimorar os modelos de análise com base nas informações compartilhadas.
A integração do Open Finance com a IA, portanto, promete elevar o sistema financeiro a um novo patamar. No entanto, é crucial permanecer atento, pois, ao mesmo tempo em que a IA promete potencializar a eficiência do ecossistema, também pode ser utilizada para aprimorar fraudes e golpes financeiros.
Potencial
Os benefícios da inteligência artificial têm sido absorvidos pelo sistema financeiro há algum tempo. Essa tecnologia proporciona, por exemplo, redução de custos e avanço na eficiência, tanto no back office quanto no front office.
Isso ocorre porque o uso de IA diminui os custos por meio da automatização de processos, aprimora a análise de informações, fortalecendo os modelos de tomada de decisão. Ela auxilia, ainda, no desenvolvimento de soluções mais personalizadas para os clientes. Dessa forma, a IA pode potencializar a produtividade no setor e aprimorar a qualidade dos produtos e serviços oferecidos.
Por outro lado, a IA é uma ferramenta programada por seres humanos e, portanto, pode ser utilizada para propósitos maliciosos. Nesse sentido, a tecnologia tem sido explorada por cibercriminosos para aprimorar fraudes, identificando vulnerabilidades e tornando os ataques mais eficazes.
A inteligência artificial generativa, por exemplo, possui um grande potencial para criar perfis falsos convincentes o suficiente para seduzir consumidores ou aperfeiçoar estratégias de phishing – uma forma de engenharia social que visa enganar pessoas para obter informações sigilosas ou pessoais.
Percebe-se, então, que a tecnologia potencializa tanto a eficiência do sistema financeiro quanto a sua exposição a ataques cibernéticos, e tudo isso tende a aumentar ainda mais com o Open Finance. Esse modelo promete promover a circulação de um volume maior de dados e maior conectividade, o que impacta diretamente o número de transações e informações trocadas.
Mitigação de riscos
Ao mesmo tempo, compreende-se que os ganhos com o avanço tecnológico e o aumento da digitalização são essenciais para a evolução do sistema financeiro, possibilitando mais competição e inovação, com a redução dos preços e o estímulo à inclusão.
Portanto, não se trata de negar o avanço tecnológico, mas sim de fazê-lo de forma inteligente, mitigando os principais riscos associados. A boa notícia é que, da mesma forma que a inteligência artificial pode ser usada a favor dos cibercriminosos, ela também pode ser a principal aliada no combate à fraude.
A IA pode ser usada de diversas formas no combate a ações fraudulentas. É possível, então, treinar os modelos para melhorar a identificação de atividades maliciosas por meio da rápida análise de diversas transações simultâneas.
Além disso, sistemas de IA podem aprimorar o monitoramento do comportamento dos usuários, identificando mais rapidamente uma movimentação suspeita. A IA pode, ainda, aperfeiçoar os sistemas de verificação de identidade do cliente e de identificação de instrumentos de phishing, entre outros.
Assim, para colher os benefícios das novas tecnologias de forma segura dentro do Open Finance, é essencial uma boa regulamentação e supervisão por parte das autoridades do setor, além da responsabilidade dos agentes com um uso ético da tecnologia.
Com isso, é possível assegurar que os participantes do mercado se comprometam com os padrões de segurança do ecossistema e um bom uso e proteção dos dados. Além disso, o aprimoramento dos modelos de segurança deve ser constante. Isso porque o avanço tecnológico não para e os cibercriminosos estarão sempre prontos para aproveitar uma nova brecha.
*Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No Finsiders, assina uma coluna bimestral sobre cripto, banking, crédito e Open Finance.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos colunistas, e não a do Finsiders. O portal não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.
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