A estratégia da Quod, birô dos bancos, para ser uma 'datatech'

Controlada por cinco 'bancões', a empresa quer crescer em novos mercados, diz Ricardo Kalichsztein, que assumiu como CEO em janeiro

Criada em 2017 por cinco grandes bancos (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander) para implementar o Cadastro Positivo no país, a Quod entrou em operação no final de 2018 e nos últimos anos vem ampliando sua atuação. Agora, a companhia quer deixar de ser vista como o “birô dos bancos” para se posicionar como uma “datatech”. 

A mudança coincide com a chegada do novo CEO, em janeiro. Ricardo Kalichsztein assumiu o posto, depois de empreender por 10 anos com o marketplace Bom Pra Crédito. A missão do executivo — que também foi sócio da GoOn e atuou no Unibanco e na Fininvest nos anos 2000 — é trazer um “espírito empreendedor para uma empresa jovem”, como ele mesmo diz em relação ao convite feito pelo conselho de administração da Quod.

“Nascemos como um birô de crédito, que faz o Cadastro Positivo. E a visão que tenho para a companhia é que somos uma ‘datatech’, um espaço que ainda não existe no país”, explica Ricardo, em conversa exclusiva com o Finsiders. Atualmente, a Quod possui informações de mais de 200 milhões de pessoas físicas e 60 milhões de empresas. 

“Desafiar o mercado”

Nesta nova fase, a Quod aposta em parcerias estratégicas, diversificação do portfólio de soluções e modelo de trabalho com metodologia ágil para crescer e, assim, aumentar sua participação num segmento dominado por players como Serasa Experian e Boa Vista. “Estamos bem posicionados para desafiar o mercado”, garante o CEO.

Com atuação em análise de crédito (PF e PJ), cobrança e antifraude, a Quod vem crescendo em outros perfis de companhias no setor financeiro, para além dos bancos. Isso inclui, por exemplo, a oferta de soluções para instituições de pagamento (IPs) e fintechs de crédito. Conforme as demonstrações financeiras referentes a 2022, a Quod terminou o ano passado com mais de 200 clientes e receita líquida de R$ 233,9 milhões — alta de 25% em relação ao ano anterior. 

“Temos crescido fortemente fora dos bancos. O mandato deste ano é consolidar o nosso arsenal de produtos inovadores e disruptivos dentro dos mercados de crédito, cobrança e fraude para, em 2024, falar em novos segmentos, como seguros, saúde, educação e outros”, afirma Ricardo. “Em seguros, por exemplo, já temos clientes em parceria com a Neurotech.“

As parcerias de negócios, aliás, são outro vetor importante para a Quod, segundo o executivo. Neste momento, diz o CEO, a empresa resolveu dar foco para dois acordos anunciados nos últimos meses. Um deles é com a Nuclea (antiga CIP) para o desenvolvimento de produtos em conjunto, com foco em PJ. O outro, mais recente, foi firmado com a B3 e sua controlada, Neurotech, e tem como objetivo desenvolver produtos para melhorar a análise de crédito no país. 

Ricardo Kalichsztein, CEO da Quod. Foto: Divulgação
Ricardo Kalichsztein, CEO da Quod. Foto: Divulgação
Combate a fraudes

Ao longo de 2023, a Quod também vem investindo em novas soluções antifraude. “Lançamos no começo do ano e temos aprimorado um produto chamado Detecta Laranja, que permite identificar contas possivelmente laranjas”, conta Ricardo. Esse tipo de fraude cresceu no país, acompanhando a expansão no uso do Pix, e vem sendo combatido com diversas medidas criadas pelo Banco Central (BC). 

Em maio, por exemplo, o BC e o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicaram a Resolução Conjunta CMN/BCB 6. A medida, que entra em vigor em novembro, determina que instituições financeiras e demais autorizadas a funcionar deverão compartilhar entre si dados e informações sobre fraudes e golpes no Sistema Financeiro Nacional (SFN) e no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). 

A Quod criou o que chama de RUFRA, sigla para registro único de fraudes. “Em novembro, todo mundo precisa estar operacional. Estamos puxando bastante esse mercado. Fechamos parceria com todas as associações de empresas que têm algum relacionamento com o BC — da Febraban [Federação Brasileira de Bancos] à Zetta — para oferecer essa solução.”

Open Finance

Perguntado como a Quod enxerga o Open Finance, Ricardo diz que vê tanto o Cadastro Positivo quanto a iniciativa de compartilhamento de dados financeiros como “aliadas” do mercado e que trazem melhorias para o consumidor. “Isso é garantido? É para todos? Não. Mas significa que poderemos enxergar cada vez mais o comportamento dos bons clientes. O mercado sempre foi muito viciado no negativo. O bom sempre pagou pelo mau cliente no Brasil”, afirma o executivo.

De acordo com informações da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), o Cadastro Positivo já beneficiou mais de 22 milhões de brasileiros com acesso a crédito, desde a implementação do modelo de adesão automática, em julho de 2019. 

Lançado pelo BC em fevereiro de 2021, o Open Banking evoluiu para Open Finance e alcançou 37 milhões de consentimentos e 24 milhões de clientes únicos em julho. “Para a Quod, [o Open Finance] é uma pauta extremamente. Sem falar no que pode ser ‘open’, à luz da LGPD. Vamos ver, por exemplo, planos de saúde mais diversificados e cada vez mais adequados aos clientes.”

M&A

Capitalizada com um aporte estratégico de R$ 420 milhões feito pela empresa norte-americana LexisNexis Risk Solutions — que passou a ter uma participação minoritária no negócio —, a Quod tem utilizado os recursos para investimento em tecnologia e plataforma, diz o CEO. 

Questionado sobre possíveis fusões e aquisições (M&A), um caminho trilhado por seus principais competidores, Ricardo descarta movimentações nessa direção, ao menos por enquanto. “Neste momento, preferimos focar em parcerias estratégicas até porque temos uma cultura em evolução dentro de casa para, quem sabe, mais à frente falar sobre M&A. Nosso objetivo agora é crescer mercado, novos produtos, e ter um atendimento diferenciado.”

Leia também:

Serasa Experian compra FlexPag, a ‘fintech das utilities’

BC libera consulta ao birô de crédito do SCR para garantidores

Opinião | Birôs de crédito podem prover soluções para o Open Banking