Há cerca de um ano, Paulo David, João Pirola, Artur Malabarba, Eduardo Tang, Rodrigo Sousa e Otávio Schwanck se juntavam para lançar a AmFi, fintech de infraestrutura de crédito baseada em tecnologia blockchain — você leu essa história em primeira mão aqui no Finsiders.
Apesar das turbulências no varejo, a crise no mercado de venture capital e as taxas de juros elevadas no Brasil e no mundo, a empresa formada por empreendedores ex-Grafeno teve um desempenho positivo no primeiro semestre.
Ao conectar as fintechs que atendem PMEs a investidores institucionais, por meio de liquidity pools (pool de liquidez), que usam como garantia ativos tradicionais — recebíveis de cartões ou duplicatas são exemplos —, a AmFi apurou crescimento mensal 41% de janeiro a junho. Embora não abra os números, a estimativa da companhia é faturar R$ 1 milhão até dezembro.
Cenário favorável
Boa parte da perspectiva favorável vem do corte de juros. Em agosto, o Banco Central (BC) cortou a Selic em 0,5 ponto porcentual — o primeiro movimento do tipo em três anos. Hoje em 13,25% ao ano, a taxa deve fechar 2023 em 12%, segundo o boletim Focus.
“Os bancos tiraram bastante o pé do ‘funding’ para crédito no Brasil. Com a taxa de juros alta, o mercado de capitais olhava para ativos mais estáveis e seguros. Quando a gente vê a curva de juros fechando, é importante ter investimentos que surjam para superar isso”, afirma Paulo David, cofundador e CEO da AmFi, em entrevista ao Finsiders.
Esse cenário oferece algumas vantagens para a plataforma. Com a tendência de redução da Selic, é natural que os investidores passem a buscar investimentos alternativos, em detrimento da renda fixa, para elevar o retorno da carteira. O objetivo é alcançar 500 investidores até dezembro, entre estrangeiros, family offices e gestoras de recursos profissionais.
Por outro lado, com a escassez durante o ‘inverno’ do venture capital, muitas fintechs precisam recorrer a estruturas e veículos de mercados de capitais, como os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) ou debêntures. Essa opção evita a diluição do equity em rodadas de investimento, que acaba saindo mais caro do que o financiamento via dívida.
Evolução
Nos primeiros seis meses do ano, a AmFi colocou para rodar sete novos ‘pools’, além dos três que já estavam em funcionamento. A ideia é encerrar o ano com 20 ‘pools’ de liquidez. Na ponta da originação, estão empresas das mais variadas, como a Stockash (fintech de crédito focada em stock options), Digap (de compra e venda de precatórios) e Resolvvi (lawtech focada no direito do consumidor).
“A gente está usando o recebível do cartão de crédito como colateral da operação, que é tokenizada. Então, o investidor entra em uma operação tokenizada, mas que está atrelada a um recebível do cartão de crédito. Para o investidor, ele está caminhando para o futuro com segurança e controle em uma debênture de empresa privada”, afirma Paulo.
Crowdfunding
Para avançar, a plataforma também deve apostar em ofertas de ativos individuais, uma vez que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) trouxe o entendimento de que os valores individuais não configuram oferta pública. Somente em agosto, a startup deve ter 25 ofertas de ativos.
Entre os pilares da avenida de crescimento, está um pedido da AmFi protocolado via CVM para disponibilizar seus tokens em uma plataforma de crowdfunding. A expectativa é que a autorização seja concedida já em setembro. ” Temos mantido constante interlocução com a CVM, que faz um incrível trabalho de discussão com a indústria de tokenização para que nosso mercado possa florescer no Brasil.”
Nesta toada, os investidores estrangeiros têm uma atenção especial. “Hoje, o investidor estrangeiro quase não compra dívida no Brasil. Ele compra commodities ou ações na bolsa. Isso por conta de problemas estruturais, não é uma operação bem estruturada”, diz. “Quando a gente transforma isso de forma tecnológica, com um contrato inteligente orquestrado, é mais seguro e transparente.”
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