Quando a expressão ‘mercado imobiliário’ vem à sua cabeça, o que você pensa logo de cara? Se a resposta for ‘financiamento’, saiba que esta também é a lembrança de uma parcela em ascensão no país.
No ano passado, por exemplo, o total de empréstimos no setor representava cerca 10% do PIB nacional, conforme o Ipea, indicando que o Brasil ainda é nascente em comparação a outras nações, como Chile (~26%), Estados Unidos (~60%) e Holanda (~90%).
Assim, um segmento que ainda possui muito espaço para evoluir atraiu os olhares da Creditú, que acaba de desembarcar em terras brasileiras. A entrada, considerada a maior expansão internacional da companhia, ocorre após o investimento de R$ 100 milhões feito pela chilena Avla, especializada em seguros empresariais.
“Quando fundamos, a oportunidade que vimos foi de entregar acesso a financiamento imobiliário a 60 milhões de pessoas na América Latina. Dentro disso, a principal oportunidade que a gente achou está no Brasil. Começamos no Chile, que tem um mercado desenvolvido, mas o Brasil é melhor que isso”, aponta Ignacio Alamos, CEO da Creditú no Chile, com exclusividade ao Finsiders.
Nascida em 2017 e com operações também no Peru e México, a fintech quer promover o acesso ao crédito imobiliário para aqueles que possuem dificuldades em financiar imóveis nos bancos tradicionais, seja por não possuírem o valor mínimo de entrada exigido ou por não terem uma renda 100% formal, por exemplo, os autônomos.
“Os imóveis que a gente vai financiar neste momento são residenciais, mas se a sua renda vem de MEI, nosso modelo é flexível justamente para permitir que as pessoas que têm fontes de renda diversas sejam capazes de comprar a sua casa”, conta Felippe Astrachan, CEO da Creditú no Brasil.
Para isso, a empresa desenhou uma operação que considera a originação do crédito imobiliário aliada a um seguro de crédito. Desta forma, a contratação do seguro protege o investidor do risco de perda por inadimplência e transfere-o para a seguradora. “Assim, a gente pode decidir e dar as condições com base em nosso modelo de crédito”, acrescenta Felippe.
A Creditú também enxerga oportunidades em um dos principais obstáculos enfrentados pelos consumidores quando o assunto é financiamento imobiliário: o tempo de aprovação. Enquanto nos bancos tradicionais esse processo leva em torno de 3 meses, a fintech promete reduzir esse prazo para 20 dias — no Chile, por exemplo, a validação ocorre em menos de uma semana, dizem os empreendedores.
“O nosso processo é muito mais enxuto, mais direto ao ponto, e desenhado para realizar o sonho do cliente de comprar sua casa de forma mais rápida. Vários cartórios já aceitam assinatura digital. Os que têm a gente já vai estar trabalhando, e esse período vai ser ainda menor”, reforça Lucas Santana, gerente de estratégia da Creditú no Brasil.
A empresa — que atua como correspondente bancário da Companhia Hipotecária Piratini, sediada em Porto Alegre (RS) — tem parceria com corretores e imobiliárias para a oferta do produto. As linhas de financiamento são de até 90% do valor do imóvel, com prazo de até 35 anos e taxas a partir de 0,53% + IPCA ao mês.
Com isso, a Creditú deve fechar o primeiro ano de operação com R$ 100 milhões em créditos originados, e quer chegar a R$ 3 bilhões em cinco anos. Sem dar maiores detalhes, Felippe acrescenta ainda que novos produtos também estão no radar da companhia.
“O primeiro negócio é o de crédito imobiliário, mas a gente entende que tem uma plataforma, tanto do ponto de vista de tecnologia, quanto de inovação financeira, que nos permite ter produtos diferentes. Acho que a gente pode sim entrar em novos mercados. Comprar a casa é só um dos problemas que os brasileiros enfrentam”, adiantou.
Em alta
No mercado imobiliário, principalmente em home equity, a Creditú não está sozinha. Creditas, CashMe, Pontte, LendMe crescem, cada uma a sua maneira e com modelos diferentes. A KeyCash, que acaba de receber um cheque do Modal, também está armada para competir. Assim como a CrediHome, comprada recentemente pela Loft.
Merecem destaque, ainda, as startups do setor imobiliário, como a Housi, QuintoAndar e Kzas, a própria Loft, entre outras, que vêm lançando também produtos financeiros, especialmente crédito.
Ignacio sabe da concorrência, mas aposta na entrega da solução para as pessoas da maneira mais eficiente possível. “Eu tenho uma visão menos competitiva e creio que a tecnologia está mudando tudo. Eu gosto muito de pensar dessa maneira”, afirma. Para o Brasil, Felippe está bastante animado com as perspectivas, dado o potencial oferecido e pouco explorado pelo país.
“Esse é um mercado carente de novas soluções. Estamos muito motivados e super otimistas com o sucesso da operação. Vamos conseguir de fato resolver um problema e ajudar as pessoas a comprarem casas.”
Foto de destaque: Felippe (à esquerda), Ignacio (centro) e Lucas (à direita).
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