'Embedded finance' cresce e amplia o engajamento de clientes com plataformas

Para aprofundar o relacionamento com os clientes, bancos também vêm criando ofertas de soluções não financeiras

A tendência de embutir produtos e serviços financeiros em plataformas não financeiras, conhecida como ‘fintechzação’ ou pela expressão mais pomposa de ‘embedded finance’, vem invadindo diversos setores. Por outro lado, instituições financeiras tradicionais e bancos digitais também têm feito incursões em novos modelos de negócios, para além de banking, como os marketplaces de soluções não financeiras. O objetivo em comum dessas estratégias é ampliar o relacionamento e o engajamento com os clientes e, por óbvio, criar novas linhas de receita.

O Itaú, por exemplo, lançou em agosto do ano passado seu marketplace, o Itaú Shop, que permite ao correntista do banco comprar de celulares a perfumes, com diferentes opções de pagamento.

“Queremos estar mais presentes na vida dos clientes”, disse Vitor Amato, head de produtos digitais do banco, em evento realizado ontem (28) em São Paulo pela fintech Zoop, ao qual o Finsiders teve acesso com exclusividade. Segundo Vitor, a grande tese do marketplace é a aproximação com o ecossistema do Itaú. “Estamos falando de quase 60 milhões de potenciais consumidores e, do outro lado da cadeia, quase 2 milhões de potenciais vendedores.”

Enquanto o Itaú incrementou o portfólio com produtos não financeiros, a OLX fez o caminho “inverso”. A plataforma de compra e venda online de itens usados e seminovos percebeu recentemente que havia uma oportunidade de migrar de um modelo de classificados para um negócio transacional. Nesse sentido, a companhia acaba de fechar uma parceria com a Zoop — anunciada em primeira mão ao Finsiders — para oferecer soluções financeiras e de pagamento aos seus usuários.

“Estamos neste momento de dar um novo passo em termos de soluções financeiras e seguir ampliando os volumes transacionados, e permitindo que as pessoas comprem e vendam de canetas até tratores usados, em qualquer ponto do país”, afirmou Regina Botter, general manager da OLX, durante painel no Zoop Summit.


O poder do Pix

No iFood, centenas de milhares de restaurantes atualmente têm acesso a uma conta digital, com serviços básicos, como transferências via Pix, boleto e cartão. É o que a empresa chama de “banco do restaurante”, contou Thomas Barth, diretor de fintechs da Movile e do iFood. “Em cima disso, começamos a colocar crédito, que talvez seja a próxima fronteira para quem está em pagamentos. Quando você começa a enxergar o ‘flow’ e as vendas desse cara no dia, na semana, no mês, está em posição privilegiada para dar crédito.”

Leia também: Grandes ideias que darão forma ao mercado de fintechs

Segundo ele, a empresa começou a perceber que os restaurantes que têm conta digital e crédito, por exemplo, normalmente avaliam melhor o iFood e são mais fiéis à plataforma. “Produto financeiro, então, virou uma ferramenta de ‘engagement’ dele com a plataforma”, disse Thomas, no evento. Em relação aos clientes finais, novos métodos de pagamento como o Pix foram cruciais para melhorar a experiência do cliente com o aplicativo. O executivo cita que, durante a pandemia, o Pix trouxe “um mar de gente” para o iFood — pessoas que antes não conseguiam pedir comida pelo app por não ter cartão.

No caso da Sympla, plataforma de venda de ingressos e eventos, o período pós-pandemia reativou uma demanda reprimida. Em 2022, por exemplo, a companhia emitiu cerca de 40 milhões de ingressos, contou Marina Teixeira, group product manager da Sympla. Segundo ela, além de ocupar o lugar do boleto bancário, o Pix vem tomando espaço do crédito à vista, principalmente quando o valor da venda é mais baixo. “Em contrapartida, também vemos um crescimento de vendas via cartão de crédito parcelado.”

Na Infracommerce, ecossistema de comércio digital, o Pix também ganhou relevância rapidamente. “Nas nossas operações, o Pix alcançou 20% das vendas em menos de seis meses”, disse Fernando Marsigliese, vice-presidente da InfraPay, a unidade de pagamentos e serviços financeiros da Infracommerce. Um dos motivos para o rápido sucesso do sistema de pagamento instantâneo tem a ver, na avaliação dele, com a relação do brasileiro com novas tecnologias. “O consumidor brasileiro é um dos mais suscetíveis e favoráveis à inovação.”

Por falar em inovação, no mundo PJ — principalmente micro e pequenos negócios —, um dos temas que ganha força é a modalidade ‘tap to phone’, que transforma os celulares dos lojistas em terminais de pagamento. Conforme conta João Avelino, general manager do Nubank, essa era uma dor recorrente dos clientes PJ do banco digital.

“Todo pequeno comerciante frequentemente reclamava do custo das maquininhas e sabíamos que essa era uma jornada central para os clientes. E disso nasceu a ideia de fazer um novo produto em que não precisa ter hardware”, afirmou o executivo, sobre o NuTap, lançado em maio de 2022 pela fintech.

A solução, construída em parceria com a Zoop, continua em fase de testes, evoluindo e a expectativa é poder escalá-la rapidamente, disse João. “É um produto que está na palma da mão do usuário, ‘embedded’ no aplicativo e permite cobrar taxas menores justamente porque não tem o custo associado ao hardware”, afirmou. Segundo ele, o banco acredita no potencial dos pagamentos como um dos grandes “drivers” de engajamento para os clientes PJ e informais. “Estamos no começo da agenda de pagamentos. Já lançamos o NuTap e agora estamos lançando link de pagamentos.”

Com sua plataforma de infraestrutura em serviços financeiros em nuvem, a Zoop diz estar desenvolvendo novas formas de pagamento “dentro de uma jornada simples”, segundo o cofundador e CEO, Fabiano Cruz. Entre as novidades previstas para os próximos meses estão uma nova experiência em ‘buy now, pay later’ (BNPL) e a oferta de iniciação de pagamentos — em piloto já com alguns clientes, disse ele ao Finsiders. A fintech, que começou em 2013 com uma operação de pagamentos white-label, atua também com banking e crédito. Com mais de 650 clientes, processa anualmente R$ 23 bilhões.

Leia mais:

Embedded finance pode gerar receita de R$ 24 bi até 2026

‘Embedded finance’ é oportunidade para fidelização de clientes

will bank amplia portfólio e busca rentabilizar a base

Com corretora de valores, PagSeguro vai atrás de novos clientes