ESTRATÉGIA

"Não adianta abrir conta só para ficar fazendo Pix", diz CEO da Jazz Tech

A empresa, que tem o Banco Arbi como investidor, se define como 'buildtech' e aposta em soluções e jornadas com foco no mercado corporativo

José Roberto Kracochansky, CEO da Jazz Tech. Imagem: Divulgação
José Roberto Kracochansky, CEO da Jazz Tech. Imagem: Divulgação

Na concorrida arena de infraestrutura em serviços financeiros e pagamentos, a Jazz Tech não se vê “dançando” como uma infratech, muito menos quer disputar “palco” com seus competidores nos projetos tradicionais de banking as a service (BaaS) — por exemplo, montar bancos digitais que oferecem o “feijão com arroz” de conta digital e cartão pré-pago. O foco da companhia mesmo é o mercado corporativo, em setores que vão do turismo às telecomunicações, passando por logística e transportes.

“Não adianta abrir conta para ficar fazendo Pix. Mais do que soluções white-label [com a marca do cliente], construímos jornadas. Não somos nem fintech, nem infratech. Estamos nos posicionando como uma ‘buildtech’”, diz José Roberto Kracochansky, CEO e fundador da Jazz, em conversa com o Finsiders Brasil

Para rodar sua plataforma, a Jazz utiliza a licença e o core bancário do Banco Arbi, que também é seu investidor. Na visão de José Roberto, o fato de ter um banco múltiplo dentro de casa é um grande diferencial. “Nos permite criar o embedded finance [finanças embarcadas] ‘puro sangue’”, brinca o executivo. “Com nosso ecossistema, conseguimos ter uma oferta completa.”

O portfólio de produtos e serviços da Jazz não é muito diferente dos de outras companhias de infra em pagamentos e serviços financeiros. Na verdade, a empresa vê no “conjunto da obra” e em como constrói as experiências seus grandes trunfos. “Conseguimos customizar as jornadas para diversos nichos”, diz o CEO. Um exemplo, cita ele, é a fintech M3Bnk, do grupo paulista Move3, de logística. 

“A solução inclui pagamento dos funcionários, adiantamento salarial, antecipação de crédito para as franquias, portal PF e PJ. Na prática, é um banco rodando dentro de um ecossistema que envolve dezenas de milhares de stakeholders, incluindo colaboradores e entregadores”, menciona José Roberto. 

Soluções para nichos

Outro caso é a Motorola, que também resolveu aderir às finanças embarcadas com o Dimo, sua conta digital que debutou em dezembro de 2022. A fabricante de smartphones lançou no fim do mês passado um cartão de crédito cuja garantia é de investimentos em CDB, emitidos pelo Arbi. “Colocamos um banco digital dentro do telefone celular”, resume José Roberto.

Mais uma novidade é o lançamento de um cartão de crédito físico, voltado para o setor de viagens e entretenimento. A solução é embarcada em sistemas de gestão das agências de viagens corporativas. Entre os parceiros da Jazz estão plataformas como Argo Solutions, Paytrack, Lemontech e Wooba. “Numa só plataforma é possível gerenciar as despesas corporativas e emitir os cartais virtuais de uso único”, detalha José Roberto. “De fato, é um embedded finance.”

Além disso, a Jazz está evoluindo o seu produto de crédito consignado. Neste momento, a empresa está testando um aplicativo de autocontratação, em um piloto no Mato Grosso para uma base selecionada de aproximadamente 200 pessoas. “O consignado é um mercado que temos explorado desde o ano passado. A ideia é acelerar neste ano”, conta Thalita Roque, chefe de produtos da Jazz. 

Relacionamento e recorrência

Atualmente, a Jazz soma mais de 100 parceiros, incluindo Superdigital (do Santander), Stuo, além de Move3 e Motorola. O CEO não revela números como volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês) e projeções para o ano. Em seu site, a empresa diz ter mais de 1,5 milhão de contas cadastradas. Numa reportagem do Valor Econômico, em novembro de 2023, ele afirmou que a Jazz movimenta por mês cerca de R$ 200 milhões. 

Para o executivo, o relacionamento com os usuários e a recorrência dessa base são atributos que devem ser avaliados para montar ou não uma operação de serviços financeiros embarcados. “Percebemos em vários projetos que somente ter base de clientes não vira. Tem que ter relacionamento com os usuários. O ponto é monetizar uma relação já existente”, afirma.