Norte-americana Caliza, de infraestrutura para contas em dólar, desembarca no Brasil

A fintech fundada por Ezra Kebrab, ex-diretor global de fintechs da Visa, acaba de levantar R$ 30 milhões em uma rodada seed

Abrir uma conta em dólar fora dos Estados Unidos pode ser um processo caro e complexo. Para enfrentar o gargalo, a Caliza, startup norte-americana que aposta em uma API para que bancos e fintechs possam oferecer exposição a dólar a seus clientes, está desembarcando no Brasil nesta quarta-feira (13). 

Para acelerar os planos de crescimento, a empresa anuncia, também, um seed round de R$ 30 milhões. A captação foi liderada pela Better Tomorrow Ventures e Abstract Ventures, com participações dos fundos Fontes (veículo early-stage da QED Investors), Quona Capital, Valor Capital Group e outros investidores.

A Caliza foi fundada em 2021 por Ezra Kebrab, um norte-americano de família etíope nascido na capital Washington D.C.. Após concluir a graduação em matemática na Universidade de Columbia, em Nova York, ele atuou na indústria de meios de pagamentos e fintechs ao longo da última década. 

Foi engenheiro de ‘growth’ na Evenly, startup que ajuda na divisão de despesas entre amigos, vendida para a Square em 2013. Entre 2017 e 2021, quando era diretor global de fintechs da Visa e estava à frente de um programa de aceleração da empresa, notou que havia oportunidades a serem exploradas. 

“Havia uma forte demanda por produtos realmente americanos, por contas em dólares fora dos EUA, para ajudar as empresas a oferecerem a capacidade de economizar e fazer transações para seus usuários. E notamos uma forte demanda em muitas regiões, mas principalmente no Brasil. E isso foi parte da motivação para essencialmente seguir em frente”, afirma Ezra Kebrab, CEO da Caliza, em entrevista ao Finsiders

Brasil

As soluções da startup visam as empresas que permitem o acesso financeiro pelo usuário final, como bancos e fintechs, sobretudo em digital banking e processadores bancários. 

Ezra conta que o interesse pelo Brasil surgiu a partir de soluções como o Pix, proposta que pode ser encampada no mercado de transferências internacionais. “Acredito que muita gente percebeu o valor do Pix assim que surgiu o pagamento instantâneo. Penso que o mesmo se aplica ao [pagamento] transfronteiriço”, diz. 

“Qualquer pessoa que tenha que fazer com uma transferência por meio do Swift [o sistema internacional de transferências] e tenha lidado com atrasos de até seis dias para receber enfrentou os desafios”, completa o CEO.

Na startup, os produtos vão de investimentos a transações na moeda norte-americana. Além disso, sua infraestrutura de banking as a service (BaaS) permite que as instituições financeiras possam disponibilizar conta digital em dólar, realizar pagamentos internacionais em tempo real e inserir USDC no escopo.

No fim das contas, a ideia é baratear o acesso a produtos e serviços estrangeiros aos usuários locais — por enquanto, isso se restringe ao Brasil.

Ainda, a Caliza conta com uma plataforma de compliance e anti-lavagem de dinheiro. Para acessar os serviços financeiros norte-americanos de fora dos EUA, o usuário tem o CPF ou CNPJ avaliado.

Ezra entende que essa é uma vantagem e tanto, uma vez que demais empresas podem requisitar documentos como passaporte, prova de residência nos EUA, Security Number (identificação para residentes temporários no país) ou Imposto de Renda.

Outro ponto é que a API passa a ser embutida no internet banking de players locais, com as soluções ofertadas, mas sem a marca da startup.

Pipeline

O CEO evita abrir os números, mas diz que o ecossistema deve “dobrar” nos próximos anos. Com o seed money, a proposta é aumentar a equipe e desenvolver novos serviços financeiros, como o acesso a contas de títulos do Tesouro dos Estados Unidos e cartões de crédito internacionais.

“Gastamos bastante tempo no programa de conformidade na construção, eu diria, para lançá-lo aqui. E agora estamos entusiasmados em revelar o que construímos”, diz.

No entanto, o território brasileiro não é o único na América Latina que a Caliza está de olho. A empresa deseja levar o mesmo pacote de soluções para operar no México, em moeda local, a partir de 2024. A diferença é que enquanto os casos de uso no Brasil são mais voltados para bancos digitais e fintechs, no México isso deve estar restrito às finanças comerciais.

“Dado que há muito comércio entre os EUA e o México, acho que já existe muito entre os EUA e o Brasil também. E as remessas estão lá. Então, acho que no Brasil existe um banco digital muito forte, como um segmento muito forte voltado para a inclusão financeira”, diz.

Além do México, países da África e do sudeste asiático estão na rota da Caliza.

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