Acqio aposta no "básico bem feito" para dobrar TPV neste ano

Desde que assumiu como CEO da Acqio, há quase dois anos, o executivo Felipe Valença (ex-Goldman Sachs, Merrill Lynch, Safra, Haitong, entre outras instituições) vem provocando uma espécie de “revolução” na fintech pernambucana – que acaba de lançar uma solução para e-commerces, espera dobrar o volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês) este ano, para R$ 6 bilhões, e vai acelerar a oferta de crédito para seus 40 mil clientes, por meio de novas parcerias.

Uma das principais mudanças capitaneadas por Felipe foi o enxugamento da rede franqueada, que chegou a ter mais de 1,5 mil unidades por ser um modelo de microfranquia, de baixo investimento – hoje, a marca possui 869 franqueados em mais de franqueados, com expectativa de ultrapassar 1.100 até o fim do ano.

“Investimos muito na capacitação dos atuais franqueados. Hoje, temos cinco níveis de aprovação [para novos franqueados], um processo de treinamento que dura 90 dias, além de 60 hubs no Brasil com supervisores locais que ajudam no acompanhamento [dos franqueados]”, conta Felipe Valença, CEO da Acqio, em entrevista ao Finsiders.

Fundada em 2014 no Porto Digital, em Recife (PE), por Gustavo Danzi, Igor Gatis e Robson Campos, a Acqio deu seus primeiros passos em parceria com a Global Payments e a Verifone. Em 2019, se tornou adquirente plena e desde então vem lançando novos produtos e serviços para complementar o portfólio.

No extremamente competitivo mercado de pagamentos, a fintech quer fazer o “básico bem feito” e se diferenciar trabalhando “nas bordas” do Brasil, com a oferta de uma solução completa de pagamentos, que inclui maquininha, conta digital, cartão pré-pago bandeira Visa, link de pagamento e agora também uma funcionalidade para e-commerces.

Essa última ferramenta foi lançada no mês passado e a expectativa é que represente 8% do TPV neste ano.

“Estamos fazendo o ‘go to market’, inicialmente para o nosso canal de médias empresas, que criamos no ano passado”, explica Felipe. “Nos próximos dias, a ideia é levá-la [essa solução] para os franqueados poderem oferecer soluções do POS ao e-commerce. E estamos preparados para discutir qualquer evolução de meios de pagamento.”

Presente em mais de 2,5 mil municípios brasileiros, a Acqio atende pequenos e médios varejistas em todas as regiões do país, com maior concentração no Sudeste (40%), mas também com forte participação no Nordeste, que responde por 26% do TPV. São negócios que processam, em média, R$ 20 mil por mês.

“Estamos nos especializando para estar nas pequenas e médias cidades, mas obviamente também estamos nas grandes cidades”, afirma o executivo, lembrando que dois terços dos clientes foram bancarizados por meio das soluções da fintech. “A grande agenda para nós é digitalizar o pequeno. Ter uma oferta de serviço melhor, e novas formas de captura.”

Neste ano, a Acqio também prevê, ainda, ampliar a oferta de crédito para capital de giro, em acordo com outras empresas. “Há uma oportunidade grande para sermos um agente de crédito, mas sempre com parcerias. Já temos uma parceria com a Creditas e estamos fechando outras”, diz Felipe, sem abrir detalhes ou nomes de novos parceiros.

Controlada pelo fundo de private equity norte-americano Siguler Guff (com US$ 15 bilhões em ativos sob gestão, AuM), a Acqio captou R$ 50 milhões em março do ano passado com a XP Asset Management, em um investimento feito via estrutura de dívida, mas que pode ser convertido em participação acionária caso haja uma oferta pública, por exemplo.

Sobre novas rodadas de captação para financiar o crescimento, Felipe diz que a empresa está sempre avaliando alternativas nesse sentido. “Está no nosso radar olhar novas oportunidades de investimento.”

Mercado

A única certeza para a Acqio é de uma grande concorrência no setor de pagamentos. Novos entrantes buscam uma fatia do bolo em um mercado ainda concentrado nas mãos de duas credenciadoras (Cielo e Rede).

A lista inclui players já bastante conhecidos, como Stone e PagSeguro, mas também outras fintechs que miram pequenos varejistas, entre elas, CloudWalk (dona da maquininha InfinitePay) e SumUp – essa última deu entrada no Banco Central (BC) no ano passado para operar como adquirente plena, conforme revelou o Finsiders.

Em 2021, a indústria de cartões no Brasil movimentou R$ 2,65 trilhões, um crescimento de 33,1% em relação ao ano anterior, conforme dados da Abecs, que representa as empresas de cartões. A projeção da entidade é que o mercado chegue a R$ 3,2 trilhões neste ano, o que representaria um avanço de quase 21%.

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