Aos 14 anos, a mineira Gerencianet não quer mais "comer quietinha"

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Em Ouro Preto, a menos de 100 km da capital mineira Belo Horizonte, a Gerencianet começou sua jornada há 14 anos, com um sistema que permitia empresas venderem online, numa época em que o e-commerce não era realidade. O negócio evoluiu para uma solução de pagamentos e agora a empresa — que se define como uma “vovó” das fintechs no Brasil — se prepara para acelerar a oferta de crédito e outros produtos financeiros.

Isso porque a companhia começou a operar em outubro do ano passado sua própria financeira no segmento S5 — desde 2019, também atua como IP (instituição de pagamento) regulada pelo Banco Central (BC), nas modalidades emissor de moeda eletrônica, emissor de instrumentos de pagamentos pós-pago e credenciador.

Com a transformação de SCD (Sociedade de Crédito Direto) em financeira, a Gerencianet lançou, em novembro do ano passado, um cartão de crédito internacional bandeira Visa, sem anuidade, tecnologia ‘contactless’ e programa de pontos Livelo.

Desde janeiro, o produto vem sendo liberado em lotes. A empresa não divulga o número de cartões emitidos ou volume transacionado até então, tampouco estimativas. “Tivemos o primeiro lote, e nesta semana está previsto um novo lote. Não revelamos valor [transacionado até agora], mas é de milhões de reais”, diz Evanil de Paula, fundador e CEO da Gerencianet, em entrevista exclusiva ao Finsiders.

Segundo o empreendedor, o cartão de crédito abre espaço para começar a oferecer a modalidade de antecipação de recebíveis. “Também estamos num trabalho regional, em cidades próximas, para colocar nossa maquininha para rodar e, depois, levá-la para o mercado nacional”, revela.

A fintech prevê lançar, ainda, empréstimos sem garantia, para pessoas físicas e pequenas e médias empresas (PMEs). “Vamos começar com os clientes que possuem fluxo financeiro aqui dentro. Depois de atender esse público, aí pensamos fora”, diz Evanil. No médio prazo, a fintech prevê avançar em outros mercados, como investimentos.

No ano passado, a empresa somou R$ 15 bilhões em movimentações nas contas digitais. A expectativa é crescer 400% em 2022. Nos três primeiros meses do ano, o volume transacionado ficou em R$ 1,5 bilhão.

Boleto + Pix

Com 130 milhões de emissões de cobranças em 2021, com destaque para transações via Pix, a Gerencianet tem uma base com 290 mil clientes cadastrados, entre pequenos e médios negócios e pessoas físicas. Em quantidade, a divisão é 50/50.

A maior movimentação vem, claro, das PMEs, que respondem por cerca de 80% do volume transacionado na Gerencianet. “Mesmo as PFs são empreendedores, como autônomos, profissionais liberais”, afirma Evanil. “Mais de 90% dos clientes têm algum processo de recebimento conosco.”

Apesar do aumento substancial nas transações via Pix, o boleto ainda é forte entre os clientes da fintech. “Depois dos grandes bancos, somos a maior fintech em geração de boletos, com market share de 2,5%”, argumenta o empreendedor. “Temos o ‘Bolix’, que permite emitir boleto com QR Code Pix”, diz. A expectativa é que as transações recebidas via Pix cresçam 8x neste ano, para o equivalente a R$ 1,15 bilhão.

Além da solução de emissão de cobrança e da conta digital, a Gerencianet oferece carnês, links de pagamento, transferências, envio e recebimento de TEDs, em um sistema multiplataforma, com aplicativo mobile e plataforma web. “Quando pega a maioria dos bancos digitais, sempre vê carência de algum serviço. Nossa estratégia é ser uma solução completa, e 14 anos de estrada nos fez conseguir trabalhar em várias frentes.”

Nesse sentido, no mês passado, a fintech adquiriu a Eva, startup de benefícios flexíveis fundada um ano atrás a partir de uma parceria entre a própria Gerencianet com a Usemobile, empresa mineira focada no desenvolvimento de aplicativos mobile e sistemas web. “Exercemos a opção de controle e adquirimos a Eva”, explica Evanil.

A empresa também construiu um portfólio de APIs de integração, para conectar Pix e outros meios de pagamento ao sistema PDV ou ERP. Atualmente, a maioria (84%) do fluxo de cobrança da Gerencianet já acontece via APIs. No ano passado, foram mais de 570 milhões de requisições geradas nas APIs da empresa. Além disso, a companhia mantém uma comunidade aberta com mais de 2 mil desenvolvedores.

Equipe

Com cerca de 300 funcionários atualmente, a Gerencianet sempre apostou na aproximação com as principais universidades públicas e privadas em Ouro Preto e cidades vizinhas. “Se pegar uma fotografia de 8, 9 anos atrás, vê todas as pessoas aqui. É um ou outro que saiu. As pessoas têm senso de pertencimento. A gente valoriza”, diz Evanil.

Não à toa, no ano passado a empresa ficou entre as melhores empresas para trabalhar na área de serviços financeiros, conforme o ranking Great Place to Work (GPTW), ao lado de players como Ticket, Elo, Alelo, VR Benefícios, Cora e Mastercard, entre outros.

Competição

O plano de crescimento da Gerencianet — que até hoje não recebeu investimentos externos — passa por enfrentar uma concorrência acirrada, de todos os lados. Com foco em pequenos e médios negócios, são diversos os bancos digitais e fintechs em busca de uma fatia do bolo que historicamente sofre com acesso a crédito nos bancões.

Resta saber se a empresa construída há 14 anos por Evanil terá fôlego para se estabelecer nos próximos 14. Ambição, pelo menos, não vai faltar. “Queremos ser uma das cinco maiores instituições financeiras do país, ser uma opção junto aos bancões. Mas sem modismo. Queremos construir algo forte”, diz. Quanto tempo vai levar isso? “Pode levar 10, 15 anos, não tem problema. A caminhada é tão boa quanto a conquista.”

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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