Prejuízo do PicPay no primeiro semestre é de R$ 663 milhões, quase o dobro de um ano atrás

Mais uma vez, o superapp PicPay registrou aumento das despesas bem acima do aumento das receitas – que foi grande, diga-se de passagem. Com isso, o resultado semestral da fintech do grupo J&F (holding da família Batista, que também é dona do Banco Original) ficou no vermelho novamente, em R$ 663,2 milhões. Os vilões das despesas foram gastos maiores com pessoal e com propaganda e marketing.

O PicPay, porém, sustenta que trata-se apenas de efeito contábil: retirando eventos extraordinários, o prejuízo persiste, mas seria 25% menor (e não 88% maior) que o do mesmo período do ano passado.

Por meio de nota enviada à Fintechs Brasil, o PicPay afirma que até setembro do ano passado, as despesas de marketing e promoções referentes à marca “PicPay” eram integralmente custeadas e contabilizadas na J&F.

“Tais despesas passaram a ser custeadas e reconhecidas diretamente no balanço do PicPay no final de setembro de 2021. Para efeitos de base de mesma comparação, considerando essas mesmas despesas de marketing e promoções diretamente no balanço do PicPay no primeiro semestre de 2021, elas caíram 20% em relação ao primeiro semestre de 2022, e consequentemente quando comparamos o prejuízo do primeiro semestre de 2022 na mesa base, observamos uma queda de cerca de 25% em relação ao primeiro semestre do ano passado”.

E, embora a fintech afirme que vem reduzindo os prejuízos “trimestre a trimestre” desde o último do ano passado, esse número é impossível de comprovar, pois o PicPay divulga apenas resultados semestrais, de acordo com normas do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional. Por essas demonstrações, e na comparação usual – uma janela de 12 meses – o prejuízo atual quase dobrou perante os R$ 354 milhões do primeiro semestre de 2021.

No ano passado inteiro, o PicPay apresentou prejuízo de R$ 1,9 bilhão, mais do que o dobro dos R$ 803,7 milhões do ano anterior. Em março, o diretor de relações com investidores do PicPay, André Cazotto, havia dito ao portal que iriam reduzir gastos com marketing em prol de atingir maior rentabilidade.

Novamente, a fintech demonstra confiança de que vai virar esse jogo. “O PicPay tem focado na estratégia de crescimento com eficiência e racionalização dos investimentos”, disse em nota enviada à Fintechs Brasil. Enquanto isso, recebeu uma ajudinha do cenário desfavorável à abertura de capital – um projeto que chegou a ser anunciado no ano passado.

Crescimento

Segundo relatório que acompanha as demonstrações financeiras do PicPay, o número de usuários registrados aumentou 29%, para 71,2 milhões ao final do primeiro semestre de 2022; o número de usuários ativos mensais (que abriram o aplicativo ou o com saldo em conta em junho de 2022) cresceu 95%, saindo de 16,4 milhões em junho de 2021 para 32,1 milhões em junho de 2022.

O volume total de pagamentos (TPV) totalizou R$ 85,7 bilhões no primeiro semestre de 2022 ante R$ 30,9 bilhões no primeiro semestre de 2021, uma expansão de 177%; a receita total atingiu R$ 1,3 milhão frente a R$ 358 milhões no primeiro semestre de 2021. Já as receitas de intermediação financeira expandiram aproximadamente quatro vezes no primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo período do ano anterior, totalizando R$ 849 milhões, e as receitas com prestação de serviços cresceram mais de três vezes no período frente ao primeiro semestre de 2021, atingindo R$ 481,8 milhões. 

O PicPay diz, ainda, que desde o último trimestre do ano passado vem racionalizando investimentos em marketing, vendas e aquisição de novos clientes, além de outras linhas, entregando reduções já significativas em custos e também no prejuízo da empresa desde o último trimestre do ano passado. “Estamos nos beneficiando de uma escala gigante que construímos ao longo dos últimos anos e também da expansão do nosso ecossistema, o que facilita manter a estratégia de crescimento através do cross sell de novos produtos (como cartões, empréstimos, pix, seguros, cripto, afiliados, entre outros) sem a necessidade de aumentar os investimentos em marca ou aquisição de clientes”.

Banco ou fintech?

O grupo pediu e obteve, em junho, aprovação do Banco Central (BC) para mudar o nome do Banco Original do Agronegócio para PicPay Bank, conforme noticiado aqui.

Na época, disse que com essa licença bancária, conseguiria destravar boa parte do valor depositado em conta para a operação. A fintech fechou o ano passado com R$ 6,3 bilhões em conta e em junho tinha R$ 8 bilhões.

No seu balanço, o PicPay Bank informou que iniciou a emissão de certificados de depósitos bancários (CDB) para os usuários do PicPay, com base nos saldos registrados em contas de pagamento pré-pagas. O total de depósitos migrados da PicPay para o PicPay Bank até 25 de agosto era de R$  7,7 bilhões. Mas, apesar dessa “migração”, o PicPay diz que “por enquanto”, nada muda na configuração das duas licenças, que vão operar em paralelo.

O Banco Original do Agronegócio passou de instituição controlada direta para ser indiretamente controlada, ficando debaixo da holding do PicPay. A mudança faz parte de uma reorganização societária do conglomerado Original, controlado pela J&F. Em outras palavras, a fintech passa a ter sob sua estrutura uma instituição financeira, além de sua própria instituição de pagamentos (IP) emissora de moeda eletrônica.