QI Tech capta R$ 1 bi, vai às compras e prepara terreno para o IPO

Quase dois anos depois da rodada anterior, fintech de infraestrutura para serviços financeiros levanta Série B liderada pela General Atlantic e quer ganhar mercado

Há quase dois anos, a QI Tech, especializada em infraestrutura para serviços financeiros, captou uma rodada Série A de R$ 270 milhões (US$ 50 milhões, no câmbio da época) com o Fundo Soberano de Cingapura (GIC) e foi às compras. De lá pra cá, adquiriu as startups Zaig (de prevenção à fraude) e Builders Bank (desenvolvimento de aplicativos bancários). E promete não parar por aí. 

Lucrativa e com dinheiro no caixa, a fintech segue de olho em oportunidades, e agora está adicionando mais combustível para avançar na estratégia de fusões e aquisições (M&A). A QI Tech acaba de levantar uma Série B de cerca de R$ 1 bilhão (US$ 200 milhões), em uma captação liderada pela General Atlantic (GA), com participação da Across Capital — que já estava no captable e agora dobra o investimento na fintech.

O aporte quatro vezes maior em relação ao cheque anterior vem num momento de expansão da QI Tech, que praticamente triplicou de tamanho entre 2021 e 2022, segundo o cofundador e CFO, Marcelo Bentivoglio. “Temos um Ebitda positivo, geramos caixa e somos lucrativos”, afirma o executivo, em entrevista ao Finsiders. Ele não abre o valuation, mas diz que “todo mundo está feliz” com o acordo. 

Em busca de ‘market share’

Daqui para frente, o plano da fintech é ganhar mercado, abocanhando mais fatias de um bolo ainda hoje concentrado nas mãos de grandes bancos. “Como o mercado ainda continua castigando o setor de tecnologia, com esse caixa vamos conseguir comprar negócios atrativos e baratos”, diz Pedro Mac Dowell, CEO e cofundador da QI Tech. “A ideia é trazer companhias com tecnologia, equipes que gerem ainda mais resultados.”

Com novas aquisições, o objetivo é consolidar a presença em segmentos nos quais já atua, como também avançar em novas áreas. Entre elas, estão Open Finance, Open Investment e cobrança. “Tem bastante inovação satélite, ao nosso negócio, como Open Finance, Open Investments, ou eventualmente uma empresa que utiliza inteligência artificial (IA) para cobrança e atendimento ao cliente”, cita Pedro. 

De acordo com os executivos, já existem conversas com empreendedores, porém nada assinado ou em estágio avançado. Possíveis aquisições podem, ainda, contribuir com a expansão das verticais atuais. A fintech opera com quatro unidades de negócio: banking as a service (BaaS), lending as a service (LaaS), KYC (sigla em inglês para conheça seu cliente) e DTVM. “Todas têm muito espaço para crescer”, aponta o CFO. 

Em crédito, por exemplo, a QI Tech espera chegar ao final deste ano com R$ 10 bilhões em novas emissões, o que representaria um crescimento de cerca de 80% em relação a 2022. “É um número relevante, mas pequeno quando comparado ao mercado de crédito total”, observa o executivo. Atualmente, a plataforma da fintech realiza diariamente cerca de 80 mil operações de crédito, diz Marcelo.

A carteira de clientes soma mais de 300 empresas — para se ter uma ideia, eram 200 no início do ano. No portfólio, estão nomes como 99, Unidas, QuintoAndar, Provu, Banco Bari, entre outros. No primeiro semestre deste ano, a QI Tech teve receita líquida de R$ 102 milhões, o que representou avanço de 63% em relação a igual intervalo de 2022. 

Rumo ao IPO

Quando divulgou a rodada Série A, em novembro de 2021, a QI Tech já falava em um IPO futuro. Na ocasião, a expectativa era de abrir capital em 2023. Como você sabe, o mercado mudou (e muito). Agora, a fintech volta a comentar sobre o assunto. “Estamos deixando a companhia pronta para a próxima janela de oportunidade, mas ainda precisamos aumentar de tamanho”, diz o CFO. “Para isso, M&A faz muito sentido. A gente acelera e dá esse corpo para a empresa.”

O plano segue sendo fazer IPO no mercado norte-americano, mas o executivo não descarta realizar a operação no Brasil. “Sobre o prazo, vai depender muito da janela de mercado. Pode ser em 2025, 2026. Até porque tem um monte de fintech ainda esperando a janela de oportunidades.”

Fundada no início de 2018, a QI Tech foi a primeira Sociedade de Crédito Direto (SCD) a ser aprovada pelo Banco Central (BC), ainda naquele ano. A fintech também chegou a tirar a licença de Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), mas vendeu-a para a Inco Investimentos em 2021.

Para completar o que chama de “one-stop-shop” do crédito, há pouco mais de três meses a fintech começou a operar como Distribuidora de Tìtulos e Valores Mobiliários (DTVM). Assim, tornou-se a primeira fintech de crédito no Brasil a ter também uma licença para atuar como corretora.

Competição

Na arena de infraestrutura para serviços financeiros, a concorrência é grande. Contudo, a oportunidade de crescimento também é alta, visto que empresas de diferentes setores têm procurado cada vez mais embutir soluções financeiras em suas plataformas. O modelo, conhecido como ‘embedded finance’, tende a gerar receita adicional de cerca de R$ 24 bilhões até 2026 para os setores de varejo, bens de consumo e outros serviços, conforme estimativa da Deloitte.

A Celcoin é um dos players que aposta no crescimento inorgânico — já comprou Flow Finance, Galax Pay e Finansystech e segue de olho em “peças” para completar seu ‘Lego’ de infraestrutura bancária e financeira. Também com dinheiro no caixa, a CSU vê os M&As como “agenda viva”, segundo disse Pedro Alvarenga, diretor de RI, em entrevista recente ao Finsiders

No caso da QI Tech, o “plano A” na estratégia de M&A envolve aumentar portfólio de produtos e expandir mercado, diz o CEO. “Mas se tiver um competidor à venda, não vou deixar de olhar. Só que precisa ver a questão cultural, o fit tecnológico etc. O fato é que consolidação de mercado é natural. Até porque tem muito espaço para ser preenchido”, resume Pedro.

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