Na guerra das maquininhas, a fintech Destaxa prega "conciliação"

Em 2021, a Destaxa processava cerca de 80 mil transações por mês, patamar que saltou para cerca de 2 milhões em março deste ano

Na onda das startups, diversas empresas despontaram e passaram a brigar pelo setor de adquirência e subadquirência no país a partir de 2015 — incluindo aí companhias já existentes. Stone, PagSeguro Mercado Pago estão entre as que ganharam tração no período.

Foi neste contexto que, em 2016, a Nexu começou a atuar como subadquirente e fornecer terminais de crédito e débito para o varejo. Mas Felipe Ayres, o empreendedor por trás da iniciativa, entendeu que aquela briga tinha players robustos demais para valer a pena.

Assim, a companhia passou por uma correção de rota, deixou a subadquirência para trás e voltou a focar no seu negócio original, com o licenciamento de softwares de distribuição de produtos pré-pagos no exterior.

Alguns anos mais tarde, mais precisamente em novembro de 2020, o Banco Central colocou o Pix no ar, alterando completamente o modo como os usuários fazem transferências diárias e incluindo uma massa de consumidores que estavam fora do sistema financeiro.

Para entender mais sobre as teses que deram origem ao meio instantâneo de pagamentos, Felipe decidiu que passaria algum tempo na Índia, país que é tido como um dos pioneiros em transferências instantâneas com o UPI (Interface Unificada de Pagamentos) — um modelo de transferências instantâneas que começou a rodar em 2016.

Coincidência ou não, durante os dois meses em território indiano, Felipe conheceu um empresário que também tivera uma subadquirente, mas desistiu do negócio em meio à dificuldade de convencer os lojistas que a sua taxa era menor do que a praticada pelos concorrentes, e passou a trabalhar com a orquestração de pagamentos.

Felipe Ayres, fundador e CEO da Destaxa. Foto: Divulgação

“A melhor coisa que eu poderia fazer era fornecer uma plataforma para mostrar as taxas, um ‘Trivago das adquirentes’, a ‘maquininha das maquininhas'”, conta ele, em entrevista ao Finsiders.

Dessa forma, o empreendedor brasileiro começou a trabalhar para tirar do papel a Destaxa, que chegou ao mercado em junho de 2021. Na prática, a Destaxa tem um software que possui autorização para reunir, em um mesmo ambiente, as diversas adquirentes e subadquirentes brasileiras, além de trabalhar com Pix e wallets.

Então, a tecnologia da fintech é fornecida para as empresas de automação comercial, que oferecem ferramentas para automatizar as atividades do comércio na ponta. Para o varejista, isso significa oferecer uma experiência melhor para os clientes, ao mesmo tempo em que consegue obter eficiência no fluxo de caixa.

Na hora de cobrar a conta em um restaurante, por exemplo, o atendente não precisa levar várias maquininhas para que o consumidor faça o pagamento de acordo com a bandeira ou com as funções de débito ou crédito. Outro benefício é que os dados de pagamentos são enviados diretamente para o sistema do estabelecimento, descartando os milhares de recibos em papel.

Negócio

Com essa gama de soluções, a Destaxa vem avançando rapidamente no mercado. Em 2021, processava cerca de 80 mil transações por mês, média bem inferior às 2 milhões de operações mensais processadas em março deste ano. Atualmente, conta com cerca de 300 clientes.

Eles atendem 2,5 mil pontos de venda (PDVs) com o uso da tecnologia, entre restaurantes, padarias, farmácias, lojas de vestuário e materiais de construção. A meta é chegar a 5 mil estabelecimentos até dezembro. Entre os que utilizam as soluções da Destaxa está a Southrock, holding que possui a licença para gerenciar as unidades de franquias como Subway, Starbucks e TGI Fridays no país.

Após uma rodada junto a investidores anjos no início e um ‘seed money’ de US$ 5 milhões com fundos como Quona Capital, Caravela Capital, Norte Capital e Clocktower Technology Ventures em 2022, a fintech espera fechar uma Série A no segundo trimestre.

“Hoje, eu tenho capacidade de expandir com muita velocidade a partir do suporte para os parceiros”, conta Felipe. “A gente quer criar um núcleo para ajudar essas empresas a vender soluções de pagamentos e produtos financeiros para os comerciantes. O nosso grande parceiro estratégico são as empresas que oferecem automação.”

No entanto, ele diz que não está queimando dinheiro para simplesmente aumentar a base, visando lucro futuro — uma receita aplicada por diversas startups até o ano passado. “Nós não pagamos para ter clientes, pois cada usuário gera uma margem de contribuição positiva. O nosso produto tem que ser bom, para que ele gere um resultado positivo”, diz.

Segundo o empresário, a estimativa é que o negócio chegue ao ‘breakeven’ entre o segundo e o terceiro trimestre de 2024.

Mercado

Hoje o modelo de negócio que talvez mais se aproxime do que foi adotado pela Destaxa é a Shipay, fintech que integra pagamentos digitais ao caixa de varejistas e tem como parceiros softwares de gestão (ERPs), PDVs, frente de loja, e-commerces e aplicativos de varejo. Em 2022, a empresa movimentou R$ 15 bilhões em 28 milhões de transações, conforme mostrou o Finsiders.

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