Por que a CSU entrou em banking as a service (BaaS)

Aquecido é pouco para o segmento de banking as a service (BaaS). Seria a nova paleteria mexicana? Brincadeiras à parte, esse mercado já tem cerca de 20 players no Brasil, oferecendo plataformas para apoiar empresas de diversos setores na construção de suas soluções financeiras digitais, na tendência do ‘embedded finance’. Quem se juntou recentemente ao grupo foi a CSU, especializada em soluções tecnológicas para meios de pagamento, customer experience e fidelização e incentivo de clientes.

No fim de junho, a companhia anunciou sua entrada oficial em BaaS com o lançamento da nova unidade de negócios Blue C Technology. Há quem diga que a empresa demorou para fazer suas apostas no segmento. Ricardo Leite, diretor-executivo de RI da CSU, responde: “na reunião de planejamento em janeiro de 2020, essa tendência de mercado já estava na nossa mesa”. O objetivo não é ser um ‘mero player a mais’, mas buscar market share relevante, diz Leite, ao Finsiders.

Para isso, a CSU alocará mais de R$ 150 milhões pelos próximos cinco anos. A princípio, a Blue C nasce como uma unidade de negócios, mas a expectativa é que ganhe tração e seja o principal veículo e vetor de expansão da empresa em BaaS, combinada com a estratégia de M&A. No futuro, é até factível que a Blue C se transforme em uma subsidiária da CSU, repete duas vezes o executivo durante a entrevista.

Por óbvio, não é um movimento rápido. Agora a prioridade é fazer o ‘roll-out’ da nova unidade de negócios, que inicia suas operações com o modelo white-label de contas digitais para pessoas físicas e jurídicas, além de oferecer soluções em crédito, câmbio, seguros, investimentos, adquirência, como componentes de um marketplace de serviços financeiros.

O novo business ainda não tem contratos fechados, mas os primeiros nomes devem ser anunciados neste trimestre. “É uma pré-venda com característica muito consultiva. A gente percebe interesse já”, diz ao Finsiders Alexandre Pinto, diretor-executivo da CSU. Ele chegou à companhia em abril para liderar a nova unidade, depois de mais de 19 anos na Matera, onde estava como diretor de inovação e desenvolvimento de negócios.

A nova plataforma de BaaS bebe da fonte da estrutura da CSU, uma empresa com três décadas de atuação e com mais de 28 milhões de cartões em sua base de serviços, processando cerca de R$ 15 bilhões em transações mensalmente. A solução de banking as a service traz o licenciamento de plataformas tecnológicas como o core bancário Technisys, utilizado para a gestão de mais de 100 milhões de contas em 16 países.

“Vamos plugar o que já temos no mundo de cartões e fidelidade numa solução ‘one-stop-shop’.”

No terceiro trimestre, a ideia é colocar no ar pagamentos (Pix, TED, boleto e cartão), fazer a integração com as unidades CardSystem e MarketSystem, além de rodar o MVP do marketplace, já com a oferta de crédito PF e PJ, por meio de parcerias. No último trimestre, a expectativa é avançar em outros mercados, como seguros e investimentos, também via parceiros.

“A partir daí, vamos plugando outros produtos e serviços financeiros. Essa é beleza do embedded finance”, afirma o executivo. O público-alvo inclui empresas de diferentes setores, que tenham debaixo do seu guarda-chuva desde bases pequenas até players com dezenas de milhões de contas. O início de geração de receitas com a nova unidade está previsto para o primeiro trimestre de 2022.

“Não estamos mirando só quem tem milhões de contas. Às vezes são 2 mil contas PJ e o ‘economics’ já faz sentido.”

Todas as tecnologias operam num ambiente compartilhado e a plataforma é oferecida tanto no modelo white-label (com a marca do cliente), quanto no formato de outsourcing. Por exemplo, a empresa pode contratar a CSU para processar conta digital e emitir cartões. Mas nada impede que, dado o volume transacionado, o cliente entre com pedido para virar uma instituição de pagamentos (IP). “Podemos oferecer módulos ou todo o back-office para a operação que já está funcionando”, explica o executivo. As contas ficam centralizadas num banco liquidante cujo acordo está em negociação e, portanto, ele não pode abrir o nome por ora.

A unidade de BaaS também vai operar em conjunto com o FitBank, fintech provedora de infraestrutura de pagamentos, para a qual a CSU assinou um cheque de R$ 10 milhões em março deste ano, num aporte que somou R$ 20 milhões, com participação dos atuais investidores da fintech, entre eles, o J.P. Morgan. “Somos provedores de soluções para o FitBank e vice-versa”, diz Ricardo Leite, diretor de RI. A fintech, inclusive, recebeu recentemente a autorização para atuar como IP.

Para crescer a área de BaaS, as operações de M&A são uma estratégia central. “O foco primordial de M&As será avaliar investimentos em negócios que tenham afinidade com nosso negócio de BaaS”, conta Leite. “A Blue C nasce como uma unidade. E provavelmente deve tomar o caminho de ser uma subsidiária da CSU”, completa.

No Brasil, o mercado de BaaS reúne cerca de 20 players, entre eles, Bankly (da Acesso, comprada pela Méliuz); BPP; Dock (da Conductor); Matera; Zoop (investida da Movile); Qesh; Hash, SWAP; Stark Bank, Atar B2B.

Sem contar os bancos que têm serviço de BaaS há um tempo, como Topázio, BV e Original — esse último, aliás, vem expandindo esse modelo de negócio dentro de casa. Outros bancos, como ABC Brasil, estão avançando no segmento, apurou o Finsiders.

“O mercado financeiro está passando por um grande momento de mudança, que vem transformando empresas não financeiras em provedores de serviços financeiros digitais e acelerando a demanda pelas conexões e integrações via APIs entre os agentes de diferentes segmentos, bem como a utilização precisa dos dados trocados entre esses players, algo que evolui à medida que o Open Banking decola mundo afora”, disse recentemente ao Finsiders o especialista em fintechs Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem e diretor para América do Sul da Financial Data and Technology Association (FDATA).

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