Transfeera se torna IP e planeja ser participante direto no Pix e iniciador

Segundo o CEO, Fernando Nunes, a fintech vai em busca de um "crescimento agressivo" em 2024 e espera levantar uma rodada Série A

A Transfeera, fintech que fornece infraestrutura de pagamentos para empresas, acaba de receber aprovação do Banco Central (BC) para operar como instituição de pagamento (IP) na modalidade emissor de moeda eletrônica — aquela que permite gerenciar contas pré-pagas. Com a autorização, a empresa passará a se integrar diretamente aos sistemas do BC, como o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e ao Sistema de Transferência de Reservas (STR).

A licença, aguardada desde 2020, é um capítulo fundamental na história da Transfeera, fundada em 2017 em Joinville (SC). Na prática, permite que a fintech tome decisões com mais autonomia e agilidade, assim como cria oportunidades de explorar novas soluções e, consequentemente, novas linhas de receita. 

“Trabalhar dentro das regras do jogo vai nos ajudar a melhorar a margem e a performance financeira do negócio, assim como nos colocará em pé de igualdade com os concorrentes que já são regulados”, define Fernando Nunes, CEO e cofundador da Transfeera, em entrevista exclusiva ao Finsiders. “Neste momento, estamos com os times de engenharia e produtos focados em ‘ligar os cabos’ diretamente com o BC, se integrando ao SPB e STR.”

Próximos passos

Segundo o CEO, a fintech já vislumbra ser participante direto no Pix — hoje atua como participante indireto do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI). Ao mesmo tempo, a ideia é buscar a licença própria para atuar como iniciador de transação de pagamento (ITP) no âmbito do Open Finance. “Acredito muito no futuro do iniciador de pagamento e na agenda evolutiva do Pix, com Pix Automático e Pix Parcelado”, diz o fundador.


Ele cita que, após a rápida adesão das pessoas físicas ao sistema de pagamentos instantâneos do BC, há um movimento crescente de adoção das empresas ao Pix. Isso inclui operações B2B, assim como pessoas pagando empresas e vice-versa. “O Pix se consolidou, e este ano vimos uma aceleração forte no universo B2B, mas também B2P e P2B. Ser regulado vai ser importante para surfar essa onda de crescimento”, aponta o CEO.

O empreendedor menciona, ainda, a possibilidade de atuar com câmbio, uma atividade que hoje as IPs podem desempenhar. “No trimestre passado, lançamos um serviço de remessas internacionais em parceria com alguns bancos de câmbio. Com IP, abre a oportunidade de explorar isso de forma direta”, diz Fernando. 

Evolução

Nos últimos meses, a Transfeera colocou no ar também o “Bolepix” — que embute nos boletos um QR Code para pagamento com Pix. Outro lançamento recente foi o que a fintech chama de painel antifraude. “Traz um raio-X das empresas com quem o nosso cliente se relaciona em termos de pagamentos. Com a Resolução 6, estamos ganhando mais robustez nessa solução.”

Em 2022, a Transfeera faturou R$ 19 milhões e movimentou R$ 12,8 bilhões. Nos seis anos de atuação, o volume de transações supera os R$ 24 bilhões. De acordo com o CEO, a fintech teve um faturamento de R$ 11 milhões no primeiro semestre deste ano e transacionou R$ 9 bilhões no período. Atualmente, a fintech tem uma carteira com mais de 450 clientes. São nomes como iFood, Vakinha, Aiqfome, Pay4Fun, entre outros. 

Segundo Fernando, 2023 está sendo um ano “positivo, mas desafiador”. Para o ano que vem, o empreendedor diz que a empresa vai buscar um “crescimento agressivo”. Para isso, a Transfeera espera levantar uma rodada Série A. Na última captação, em janeiro de 2023, a empresa recebeu R$ 7 milhões em um aporte liderado pelo Honey Island by 4UM — fundo voltado para fintechs criado por Honey Island Capital e 4UM Investimentos.

A fintech gera caixa e chegou ao ‘breakeven’ no segundo semestre do ano passado, lembra o CEO. “Sempre fizemos muito com pouco. Então, em 2024, a ideia é fortalecer a avenida de crescimento, dar um passo de cada vez, com sonho grande e pés no chão.”

Mercado

A competição está cada vez mais intensa entre os players que fornecem infraestrutura de pagamentos e serviços financeiros. Nesse cenário concorrido, o CEO da Transfeera enxerga espaço para crescer com soluções mais simples e fáceis de integrar. “Nós nascemos numa interface super simples de usar, com um leque de APIs robustas e estamos trabalhando para ter mais funcionalidades”, diz.

A tendência é que o mercado fique ainda mais acirrado, e o que vai diferenciar uma empresa da outra é a construção de valor, avalia Fernando. “Por exemplo, como se apropriar de inteligência artificial para facilitar a vida do cliente. Existe um grande potencial nesse sentido. Estamos estudando isso.”

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