Payoneer chega ao Brasil para 'exportar' serviços locais para o mundo

Fernando Barbosa*, especial para o Finsiders

Em um passado não muito distante, fazer uma venda do norte para o sul do Brasil era uma operação bastante complicada. A dimensão continental do país acarretava em custos operacionais e logísticos que pesavam contra os empreendedores locais, sobretudo as pequenas e médias empresas (PME). A digitalização da economia, porém, proporcionou a redução de gastos e mais segurança para os sellers e seus clientes.

Agora, a Payoneer, uma plataforma de cobrança e recebimento de pagamentos, quer levar os negócios desses players, bem como os freelancers e grandes companhias, a outro patamar (para ser mais preciso, a outros continentes).

Fundada em 2005 pelo israelense Yuval Tal, a empresa está desembarcando no Brasil com um amplo cardápio de soluções financeiras internacionais. Na prática, consegue conectar os negócios locais para atender a demanda em outros países.

Os clientes da fintech são prestadores de serviço para a economia digital, como analistas de marketing, desenvolvedores de software e advogados que atuam com o aconselhamento de aspectos legais, tributários e contábeis para empresas de tecnologia; sellers com acesso a empresas como Amazon, Shopee, eBay e Wish; e companhias do setor de viagens que podem funcionar no Airbnb, Booking.com e TripAdvisor.

“A ideia é que eles possam operar tão fácil quanto o fazem localmente, com a possibilidade de fazer e receber pagamentos de maneira global”, afirma a country manager e líder de estratégia Latam da Payoneer, Mar Fernández, ao Finsiders.

Mais do que a chance de prestar serviço para uma empresa nos EUA, e sacar em real no Brasil — ou na China, Índia, Austrália, Japão e em mais de 190 países, incluindo os europeus e demais centros na Ásia –, a plataforma viabiliza a cobrança no cartão de crédito ou débito ou com o débito direto na conta bancária, em mais de 200 nações pelo mundo.

Outra vantagem é que a fintech centraliza, em um único espaço, a gestão dos recursos recebidos de empresas em diferentes lugares e moedas, permitindo que o empreendedor tenha foco apenas no seu negócio. Caso necessário, a companhia também oferece capital para alavancar a expansão dos parceiros.

Para o consumidor que deseja retirar o dinheiro no Brasil, a taxa cobrada é de até 2%, o que inclui o pagamento de impostos. Para outros serviços, como o pagamento com cartão da fintech no estrangeiro, a taxa é de até 3% pela transação, dependendo do comerciante, e já inclui a taxa de câmbio para as bandeiras (Visa ou Mastercard).

Neste ponto, a recorrência é um aspecto importante: quanto mais o cliente utiliza o serviço, menor a incidência de tarifas. E parece que estratégia vem dando resultados. Em 2020, a empresa processou um volume de pagamentos da ordem de US$ 44 bilhões. Para este ano, prevê que um montante entre US$ 54 bilhões e US$ 56 bilhões passem pela plataforma.

Crescimento

A Payoneer chegou à Nasdaq, apoiada pela FTAC Olympus Acquisition Corp, a SPAC de Betsy Cohen, em junho, e foi avaliada em US$ 3,3 bilhões. Hoje, o valuation da companhia dirigida por Scott Galit é de mais de US$ 2,2 bilhões.

Em cerca de 16 anos no mercado, a companhia chegou a levantar cerca de US$ 570 milhões para financiar sua expansão, segundo a plataforma Crunchbase. Entre os investidores, estão fundos como T. Rowe Price, Franklin Templeton, Dragoneer Investment, Wellington Management e Winslow Capital.

No trimestre encerrado em setembro, as receitas da startup registraram aumento de 35%, para US$ 122,7 milhões, comparado aos US$ 90,5 milhões no mesmo período de 2020. No acumulado dos nove primeiros meses deste ano, as receitas chegaram a US$ 334 milhões, aumento de 33% na comparação anual.

No mundo, a Payoneer possui mais de 5 milhões de consumidores, entre microempreendedores e PMEs. No Brasil, são cinco colaboradores no seu escritório em São Paulo e mais de 300 mil clientes, em apenas dois meses. Nas palavras da executiva, o país “tem potencial para ser um dos ‘top five’ para a companhia”. No momento, seus maiores mercados são China, Índia, Europa e Estados Unidos.

“Nós estamos realmente colocando nossos esforços para desenvolver o que é necessário em termos de oferta e rapidamente atingir o crescimento que podemos no Brasil”, explica ela.

A executiva não abre os números, mas diz que parte da estratégia colocada em execução para avançar localmente passa pelo aumento da equipe. A expansão também tem um olhar mais amplo sobre a América Latina: a empresa está ampliando a presença na Colômbia, e, a partir da experiência em solo brasileiro, pensa em aterrissar no Chile e no Peru.

“Nós temos pessoas muito bem qualificadas na região. A economia digital global tem demandado serviços desta mão de obra e eles (freelancers e empresas) sabem como fazer muito bem. Esse movimento está se tornando um grande momento de mudança para as nossas economias, uma grande fonte de dólares”, diz Fernández. “É um plano de médio a longo prazo”, completa ela, sobre o período estipulado para crescer no Brasil.

Cross-border

A oferta de crédito e serviços financeiros no modelo ‘cross-border’ tem levado cada vez mais players ao mercado. Você leu no Finsiders a respeito da rodada de R$ 35 milhões realizada pela Vixtra, uma fintech que visa PMEs que atuam com importação, em outubro.

O Bexs, banco de pagamentos e remessas internacionais, também está de olho nesse nicho. Para isso, atua em mais de 120 países e recentemente firmou parceria com a Preme Pay, conforme revelou o Finsiders.

Sem contar o Ebanx, unicórnio de meio de pagamentos para serviços de companhias como Spotify, Uber e Amazon, que recebeu US$ 400 milhões da Advent International, em junho, e tem IPO aguardado para o próximo ano.

*Fernando Barbosa é jornalista formado pela Universidade Anhembi Morumbi. Passou por jornais como Diário de São Paulo e DCI e pelas revistas Dinheiro Rural e Globo Rural. Também já contribuiu com os sites NeoFeed e PEGN. Atualmente, escreve para UOL e Finsiders. É apaixonado por futebol e corintiano fanático (assim como o editor-chefe do Finsiders, Danylo Martins).

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