Se 2023 foi um ano de desafios para a economia em geral, as startups, em particular, tiveram um motivo a mais para reclamar: o sumiço dos seus principais financiadores, os investidores de risco, devido aos juros em patamares elevados – uma das maiores pedras no caminho.
As fintechs especializadas em crédito foram duplamente afetadas pelos juros altos. Além da escassez de capital, amargaram também uma inadimplência recorde, tendência já delineada desde meados de 2022. Nem mesmo a tão festejada Inteligência Artificial (IA), um dos maiores “hypes” do ano, conseguiu prever (e evitar) tantos eventos nefastos.
Mas, enquanto as fintechs que vivem de crédito sofrem, outras parecem não se importar tanto com os calotes. O ano foi particularmente favorável às maiores, as que estão quase entrando para o grupo dos bancões, como Nubank, Stone e Mercado Pago. O diretor financeiro do Nubank Guilherme Lago, disse, por exemplo, que os calotes estão controlados, e não preocupam: “Nosso negócio não é minimizar a inadimplência, mas maximizar resultados”.
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Indicadores: Ibovespa encerrou 2023 com uma alta de 22,28%, aos 134.185 pontos. O bitcoin exibiu forte recuperação, com alta de 134,7%. O dólar fechou abaixo de R$ 5, em queda de mais de 7%; a Selic, a 11,75% e a inflação medida pelo IPCA, em 4,68%.
Captações
E, se boa parte da alta dos juros teve motivos exógenos, como as guerras Rússia x Ucrânia e Israel x Hamas, que encareceram petróleo e alimentos no mundo todo levando a inflação às alturas, e a quebra do Silicon Valley Bank, o “banco das startups”, internamente não faltaram dificuldades extras na vida das fintechs. Uma delas, que eclodiu logo no começo do ano, foi a crise da Americanas, provocada por “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões. O problema colocou em xeque um modelo muito usado no mercado, o “risco sacado”.
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Colapso do SVB: quem ganha, quem perde
Algumas fintechs brasileiras conseguiram captar, embora em volumes menores. Segundo a plataforma SlingHub, as rodadas somaram US$ 2,6 bilhões – menos da metade do que foram em 2021 (US$ 5,6 bilhões) e ainda abaixo de 2022, quando captaram US$ 3,4 bilhões.
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FIDCs e debêntures
Outro efeito da falta de interesse dos fundos de venture capital foi o aumento das emissões de renda fixa pelas fintechs para lastrear suas operações: debêntures, Certificados e Fundos de Recebíveis complementaram (ou substituíram) o capital de risco como financiadores de primeira hora do ecossistema.
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Em 2023, Fintechs Brasil publicou 523 notícias, entre elas 22 vídeos com CEOs, 60 artigos assinados, 45 estudos, 56 conteúdos do site parceiro Finsiders e 25 do BlockNews. Lançamos nosso canal no WhatsApp, em parceria com Finsiders. Contamos 300 mil usuários e 400 mil visualizações.
Bancões, fintechs, BC e cartões
Teve também um “FlaFlu” na seara das maquininhas de cartões de crédito. Na verdade, a briga entre “bancões” e fintechs é pela antecipação dos recebíveis de cartões, uma das modalidades menos arriscadas de crédito – por isso tanta disputa em tempos de inadimplência em alta. De um lado, bancos grandes; de outro, as fintechs. Depois de a Febraban denunciar credenciadoras de fintechs por suspeita de fraudes, ao apagar das luzes de 2023 Stone e PagBank ajuizaram uma queixa-crime contra o presidente da Febraban, Isaac Sidney.
Para o Banco Central (BC), a livre negociação de recebíveis de cartão é fundamental para ampliar a oferta de crédito e baixar os juros cobrados. A briga terminou em 21/12, sem uma solução definitiva, mas com intervenção do BC regulamentando o limite dos juros no rotativo de cartão. A norma entra em vigor em 1º de julho de 2024. Mas se as partes envolvidas (bancões, fintechs e credenciadoras) chegarem a um consenso até lá, tudo pode mudar.
O BC também regulamentou as operações de desconto de duplicatas – um mercado estimado em R$ 12 trilhões, quase quatro vezes maior do que o de cartões. A ideia, aqui, também é estimular a concorrência.
Inovação
Falando em BC, não podemos esquecer de destacar seu protagonismo, com novidades do Pix e do Open Finance, e o lançamento do Drex.
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Mundo cripto
O mundo das criptomoedas e da tokenizacão também deu o que falar. Entre altos e baixos e denúncias, entradas e saídas de bancos tradicionais do mercado, o bitcoin terminou o ano de 2023 como o ativo mais valorizado. BC e Comissão de Valores Mobiliários (CVM) seguem atentos para limitar as atuações e proteger investidores.
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